Joias Hotel
DA HORA!
Foi num sábado, daqueles em que eu achava que
chegaria meia-noite, mas não chegariam as 22h.
A “galera das joias” estava churrascando, a uns cinco
quilômetros dali do hotel, mas eu podia sentir a fumaça cinzenta
trazendo o saboroso cheiro dos assados com temperos de
fuzarca que prometia virar a noite até ao raiar do outro dia.
Na parede do hall tinha um relógio, de fundo branco, do
tamanho de uma calota de Fenemê, com ponteiros espessos,
pesados, escuros e barulhentos. Na primeira meia hora o
ponteirão descia num ritmo normal, mas, pra subir, entre o 6 e o
12, parecia que ele perdia força, o ritmo diminuía e os minutos
ficavam mais lentos. Nesta segunda meia-hora ele devia levar
uns quarenta minutos ou mais pra subir.
E aquela sensação de cheiro de contrafilés e picanhas na
brasa, saboreados com cerveja gelada e algazarra, me torturavam. Eu nem tinha almoçado naquele dia de tanta ansiedade.
O auditor tinha acabado de chegar. Estava no vestiário se
aprontando para me substituir.
Nisso, o elevador desceu e, dele, saiu uma hóspede me
perguntando as horas. Apontei-lhe a “calota”, e ela:
— Nossa já são quinze para as dez. Sabe onde eu encontro
um restaurante vegetariano há esta hora?
“Restaurante vegetariano? Ela só pode estar de brincadeira
comigo!”, pensei.
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