Joias Hotel Joias Hotel | Page 71

Joias Hotel DA HORA! Foi num sábado, daqueles em que eu achava que chegaria meia-noite, mas não chegariam as 22h. A “galera das joias” estava churrascando, a uns cinco quilômetros dali do hotel, mas eu podia sentir a fumaça cinzenta trazendo o saboroso cheiro dos assados com temperos de fuzarca que prometia virar a noite até ao raiar do outro dia. Na parede do hall tinha um relógio, de fundo branco, do tamanho de uma calota de Fenemê, com ponteiros espessos, pesados, escuros e barulhentos. Na primeira meia hora o ponteirão descia num ritmo normal, mas, pra subir, entre o 6 e o 12, parecia que ele perdia força, o ritmo diminuía e os minutos ficavam mais lentos. Nesta segunda meia-hora ele devia levar uns quarenta minutos ou mais pra subir. E aquela sensação de cheiro de contrafilés e picanhas na brasa, saboreados com cerveja gelada e algazarra, me torturavam. Eu nem tinha almoçado naquele dia de tanta ansiedade. O auditor tinha acabado de chegar. Estava no vestiário se aprontando para me substituir. Nisso, o elevador desceu e, dele, saiu uma hóspede me perguntando as horas. Apontei-lhe a “calota”, e ela: — Nossa já são quinze para as dez. Sabe onde eu encontro um restaurante vegetariano há esta hora? “Restaurante vegetariano? Ela só pode estar de brincadeira comigo!”, pensei. 71