Joias Hotel
foi empurrar o carro até a esquina pra ver se pegava no tranco.
Não pegou. O único jeito foi ela apelar pra um profissional
delivery: mais despesa, mais ameaça de dureza e mais
nervosismo, estampado à flor da pele — ela tinha a tatuagem de
uma flor na nuca.
Talvez, pra evitar que o mecânico inventasse mais um
monte de defeitos no carro e isso a motivasse a bater nele, ela
preferiu aguardar no lobby, de orçamento na mão.
Nisso, outro hóspede chegou com um Uno preto quatro
portas e estacionou bem na porta do hotel. Enquanto este fazia o
check-in, o mecânico entrou devolvendo a chave pra moça
avisando ter concluído o serviço e que estava tudo OK.
Ela saiu, enfiou a chave no primeiro Uno preto quatro
portas que avistou e, indignada, bradou:
— Era só o que me faltava. Agora é a porra desta porta
que não abre.
Meteu um tapa na janela e um chute no para-lama do
mesmo. O DONO do Uno, calmamente olhou por cima dos
óculos, foi até lá e perguntou:
— Algum problema com o MEU carro, moça?
— SEU carro?? Oh, oh! É mesmo... O meu está lá na
frente. Me desculpe, senhor. Desculpe-me!
Bastante sem graça, completamente sem jeito, ela notou
que, indiscretamente a acompanhávamos com os nossos olhares
de pena lá da porta do hotel.
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