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Márcio Paschoal * paschoal3 @ gmail. com

CARISMA, GENIALIDADE E JOGO DE CINTURA

Nem sempre o que é bom aparece logo. Às vezes precisa-se de um tempo de maturação. Aquilo que choca, o que é diferente, novidade, atrai atenções positivas e reações adversas, e essa linha tênue que as separa, pode definir destinos. A sorte também escancara algumas portas: estar no lugar certo, na hora exata, com as pessoas devidas, tudo pode conspirar a favor. Ou não, como dizia o velho compositor baiano, tão divino quanto maravilhoso. Pode ser. Mas o primeiro trabalho, tanto quanto o primeiro soutien ou a primeira relação sexual( sem ordem de importância, claro), dizem, ninguém esquece. Há inúmeros exemplos de artistas que estouram e não conseguem repetir a dose. E também seu inverso, começos claudicantes e desenvolvimento natural com a experiência. Vem de Nashville a estreia de um cantor branco, motorista de caminhão e aprendiz de eletricista, que cisma que é negro, parece ter enorme talento e, notadamente, carisma com as mulheres. Nada contra as aparências externas. Cauby Peixoto também trilhou o mesmo caminho. Genialidade à parte, os olhos cor de ardósia de Chico Buarque não atrapalharam. Fábio Jr só gravou porque começou galã de tevê, idem Maurício Mattar. Não são todos os casos, mas quase sempre a beleza ajuda se somada ao talento. Enfim, o seu álbum inicial, gravado nos estúdios da RCA, em Nova York, traz algumas surpresas e boas revelações. O frenético " Tutti Frutti "( Dorothy LaBostrie e Richard Penniman),
COMENTÁRIOS DE MARCIO PASCHOAL

ÁLBUM " ELVIS PRESLEY- O REI DO ROCK "

hit consagrado por Little Richard, e a dançante " Blue Suede Shoes ", obra prima de Carl Perkins, não deixam ninguém parado. Rock puro, sem gelo. As canções se distribuem, misturando o gênero rockabilly a músicas pretensamente românticas e algum country. " I Love you because ", de Leon Payne, e " Blue moon "( Rodgers e Hart) provam a qualidade do intérprete sem, no entanto, garantir ser um sucesso. Onde há fumaça pode haver fogo. É o caso de " Trying to get you "( Rose Marie McCoy e Margie Singleton), gravado em Memphis, no Tennessee. Do tradicional grupo de soul, The Drifters, vem a ótima de Jesse Stone, " Money Honey ". Não arrisco dizer que o disco todo
é bom. Nas doze faixas, produzidas por Sam Phillips, há passagens realmente que chamam a atenção, outras só a voz melosa e propositadamente dirigida ao público feminino. Contudo, devem-se admitir algumas qualidades no moço. Os músicos convidados destacamse: Scotty Moore e Chet Atkins( amigo de Mark Knopfler do Dire Straits) nas guitarras; Bill Black no baixo; Floyd Cramer no piano; e D. J. Fontana e Johnny Bernero na bateria. Mirando no mercado teen e viajando na exploração de ritmos da moda, o disco diverte, embora não empolgue e, tirante o visual arrojado e o topete exagerado, o cantor rebola bem mais do que canta. Bem melhor que um Dean Martin e sem o alcance vocal de um Sinatra, o iniciante promete.
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JG NEWS, ANO XXI, ED. 228, OUTUBRO DE 2017