Interpress
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Cmus: saiba mais
O meu serviço, bem como de meus companheiros, era o
transporte de gado para ser morto. Carregávamos vacas e
porcos, e assim que os deixávamos na beira do precipício,
homens trajando uniforme do exército, que ali se
encontravam, os fuzilavam imediatamente.
Na primeira noite, o grito triste dos animais e o barulho dos
tiros das pistolas automáticas não saiam de meus ouvidos. Não
conseguia pegar no sono. Nunca havia presenciado cena tão
horrível.
Na manhã seguinte, recebi ordens para transportar cavalos.
Creio que jamais poderei esquecer o que ocorreu naquele dia.
Já viram alguma vez cavalos chorarem derramando lágrimas? É
um acontecimento muito raro. Pois eles choravam. Choravam
alto. Como se fossem crianças pequenas. Ao serem colocados na
carroceria, eles deitavam suas cabeças sobre a cabine do
motorista. Era como se quisessem firmar seus corpos. O choro
miserável dos cavalos machucou meu coração. Eles seriam
atirados no precipício ficando com os ossos estraçalhados.
Fiquei imóvel, cobri o rosto com as duas mãos, e chorei em voz
alta. Eu nunca havia chorado desta maneira. Os cavalos foram
queimados com lança-chamas usados na guerra. Talvez isso
amenizasse a dor desses animais, mas era um verdadeiro
inferno. “O Dia em que os Cavalos Choraram”, por Galina
Poteenko.
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