INTERPRESS (Maio, 2015) | Page 51

Interpress “ Cmus: saiba mais O meu serviço, bem como de meus companheiros, era o transporte de gado para ser morto. Carregávamos vacas e porcos, e assim que os deixávamos na beira do precipício, homens trajando uniforme do exército, que ali se encontravam, os fuzilavam imediatamente. Na primeira noite, o grito triste dos animais e o barulho dos tiros das pistolas automáticas não saiam de meus ouvidos. Não conseguia pegar no sono. Nunca havia presenciado cena tão horrível. Na manhã seguinte, recebi ordens para transportar cavalos. Creio que jamais poderei esquecer o que ocorreu naquele dia. Já viram alguma vez cavalos chorarem derramando lágrimas? É um acontecimento muito raro. Pois eles choravam. Choravam alto. Como se fossem crianças pequenas. Ao serem colocados na carroceria, eles deitavam suas cabeças sobre a cabine do motorista. Era como se quisessem firmar seus corpos. O choro miserável dos cavalos machucou meu coração. Eles seriam atirados no precipício ficando com os ossos estraçalhados. Fiquei imóvel, cobri o rosto com as duas mãos, e chorei em voz alta. Eu nunca havia chorado desta maneira. Os cavalos foram queimados com lança-chamas usados na guerra. Talvez isso amenizasse a dor desses animais, mas era um verdadeiro inferno. “O Dia em que os Cavalos Choraram”, por Galina Poteenko. 51