Inominável Nº 2 | Page 33

graça; aparentemente, e apesar das minhas queixas (sou demasiado friorenta!), estou numa zona privilegiada de Inglaterra, meteorologicamente falando. Sou também privilegiada nas amizades que aqui fiz, no trabalho e fora dele, para além das que já aqui tinha. Portanto, o primeiro Natal e passagem de ano num outro país foram especiais e senti-me verdadeiramente em casa!

O frio não impediu os passeios, agora mais relaxados nas mini-férias, pelas ruas iluminadas em festa e cheias de gente, o que já é normal todo o ano, mas agora com mais azáfama. Numa destas ruas fui pela primeira vez beber um café naquele que viria a tornar-se no meu estabelecimento favorito do género: Caffe Nero. Rústico, acolhedor apesar dos tectos altos, com paredes revestidas de quadros e fotografias a preto e branco, sofás e uma lareira, livros e jogos de tabuleiro à disposição dos clientes. Já me foi dito que este estabelecimento foi uma casa de tortura, embora não tenha conseguido confirmar esse facto mas, a ser verdade, a sua energia positiva já deve ter limpo o karma! As caras são sorridentes e fumegam os capuccino, os expresso e os vários chás. Esquecemo-nos dos tempos idos marcados pela mão de ferro do juiz George Jeffreys, que condenou a enforcamento dezenas de pessoas por traição ao rei James II. A execução era feita precisamente num túnel ao lado do Nero, que dá agora acesso à rua de trás, e não consigo evitar um vislumbre respeitoso àquele caminho estreito e escuro cada vez que lá passo... nunca o atravessei e nem tenho grande vontade, confesso!

Aproveitei também para conhecer, e vos dar a conhecer, uma localidade chamada Dulverton, uma charming little town como dizem por aqui. Assim foi, num sábado frio (claro!), numa viagem com paisagens lindíssimas de colinas e pastos verdes, num dos autocarros de Somerset, cujo bilhete ida e volta de uma viagem de hora e meia é mais barato que um bilhete do Seixal para a Cova da Piedade(!).

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Nº 2 - Fevereiro, 2016