Inominável Nº 1 | Page 60

POVO

Um povo tão pequeno, foi gigante,

Com força, que o fez ir adiante

Na saga, donde nascem os heróis,

Lançando esta Nação numa epopeia,

Tão grande, que ninguém fazia ideia,

Que havia de brilhar como mil sóis.

Deixando-se levar numa aventura

Que sendo, embora, quase uma loucura,

Virou um povo inteiro para o mar,

Desde os que construíram caravelas

Aos que abasteceram e aos que nelas

Entraram e as fizeram navegar.

Saber que, descobrir um mundo novo,

Foi feito não dum homem, mas dum povo,

Que fez do navegar o seu destino,

Só pode deslumbrar-nos co' a memória

Dos homens de coragem, de que a História,

Nos fala, num relato genuíno.

E lemos que fizeram descobertas,

De terras povoadas e desertas,

Em ilhas, continentes, oceanos,

Que, sempre com arrojo e força insana,

«Passaram muito além da Taprobana»

Em saga mais de deuses, que de humanos.

Seguindo, ora a pé, ora embarcados,

Em busca doutras gentes, doutros lados,

Entraram nesse mundo de Meu Deus;

Com fé e com coragem verdadeiras

Ousaram arriscar outras maneiras

De ter na terra mais visões dos céus.

E foram tantos séculos de sonhos,

De lutas contra monstros tão medonhos,

Que ousaram, com audácia, enfrentar,

Que ao ver a Cruz de Cristo numa vela

Já todo o oceano via nela

A força que o havia de domar.

Só quem venera o sonho dos antigos,

Relembras feitos seus, sente os perigos,

Pode evocar egrégios como amigos.

NATAL DISTANTE

Sabe Deus, quantos velhinhos

Andarão pelos caminhos

Neste tempo de Natal;

Sem que o mundo à sua frente

Lhes prometa que o presente,

Não seja sempre o normal.

Sabe Deus, quantas crianças

Perderam quaisquer esp'ranças

Neste "estado social",

Que alimenta só ladrões,

Compadres e até vilões,

Não vendo quem passa mal.

Se o valor das Fundações,

Em vez de manter burlões,

Fosse dado a quem precisa;

Era o país mais honrado,

Não punha os pobres de lado,

Mostrando uma acção concisa.

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