Inominável Nº 1 | Page 59

Vítor Cintra

Gerês)

Nº 1 - Dezembro, 2015

quem tenho a honra de chamar Pai, que me deu o privilégio de partilhar o seu imenso saber, a sua cultura e os seus valores.

Talvez seja difícil para a geração actual, cada vez mais mergulhada na transitoriedade e na superficialidade próprias do imediatismo, entender um poeta com a qualidade e grandeza de Vítor Cintra (pseudónimo de João Vítor Silva), homem de vasta cultura geral, multifacetado, bloguista intervencionista e poeta para quem a visualidade, a emoção e a memória são pedras basilares. Como um observador atento que olha ao acaso, da margem de um rio ou da margem da vida, para a vastidão de um mar salgado ou para o sal da vida, Vítor Cintra tenta retratar um instante, uma personalidade ou um evento com uma mestria e precisão históricas, que não excluem a nostalgia ou a saudade, a crítica ou o elogio.

Reservado na sua vida privada, contido nas manifestações exteriores de afecto, é um homem cuja única vaidade consiste em ser íntegro e leal para com as suas convicções. Abarca o mundo na alma e usa a pena para o retratar com a intensidade de quem celebra a vida e as emoções. Abomina a mediocridade e elogia a coragem de quem luta por fazer deste um mundo melhor.

Não passou ao lado da vida, como não passa ao lado de tudo o que é belo, grandioso e valioso. Deram-lhe uma voz e o dom da palavra e ele usa-as com mestria pelo que, à semelhança dos seus feitos na vida, a sua obra certamente ficará nos anais da história e da literatura.

Helena Silva

ILHAS

Surgidas das entranhas de Vulcano

Elevam-se das ondas dos oceanos

- Encostas bordejadas por levadas -

Montanhas, que contrastam a beleza

Agreste, que lhes deu a Natureza,

Com flores, por socalcos derramadas.

Milénios são passados, desde os tempos

Que contam que, fugindo aos seus tormentos,

Os deuses se escondiam muitas vezes.

Por certo procuravam nestas ilhas

- Cercados por imensas maravilhas -

Carpir, ou lamentar, os seus revezes.

Talvez por isso Ulisses navegasse

Num rumo, que ao Olimpo o transportasse,

Além do mar sem fim, a todo o pano;

Mas fora, por Destino, já traçado,

Ser este paraíso reservado

A povo mais ilustre: O Lusitano!

Assim, ao ser chegada a sua hora,

Os deuses resolveram ir embora

Fazendo aos portugueses o legado.

Por cá ouvem-se agora serenatas

Cantadas, em levadas e cascatas,

Por ninfas, em dolentes tons de fado.

ítor Cintra, um autor que ficará para a história e que, por mérito, deveria ser estudado e incluído no Plano Nacional de Leitura (Ler+); um homem único, a

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