Inominável Nº 0 | Page 21

Inominável/Outubro, 2015

Cara Isabel.

É com grande agrado que recebemos a sua carta e com a qual iniciamos esta rubrica de conselhos sentimentais. Seja bem-vinda. (Assim como todos os nossos leitores).

Antes de nos debruçarmos sobre o seu caso em específico gostaríamos de saber se nos poderia facultar o número do Serginho. Para questões terapêuticas, evidentemente. Estamos neste momento a fazer um estudo exaustivo, que compara o peso e os tamanhos dos halteres com a infidelidade, e a sua descrição do Serginho parece-nos apropriada (ao estudo, claro está).

Quanto ao caso que nos apresenta o nosso conselho mais valioso é o seguinte: consulte o seu signo. Já viu o que lhe reserva para hoje? Às vezes contém muita ajuda e leva-nos a seguir os caminhos mais acertados na vida.

Se mesmo assim não encontra o caminho da luz acreditamos que deve encarar toda a situação com outros olhos. É evidente que será olhada de soslaio, sujeita ao estigma social e até a discriminação por todo o bairro quando souberem que o seu marido é o único que não molha o pincel em lata de tinta alheia. (Sejamos sinceros, uma anormalidade é uma anormalidade). Além de que, compreendemos perfeitamente como deve ser incómodo e até mesmo uma maçada ter a certeza que enfim, a pila do nosso marido está exatamente no mesmo sítio em que a deixamos da última vez.

No entanto, se conseguir pôr de lado todos estes contras vai perceber que há inúmeras coisas que pode fazer com o ele, algumas das quais exemplificamos:

i. Organizar uma ação de caridade tendo-o a ele como principal atração: “a pila mais fiel

do bairro”. Já viu a quantidade de dinheiro que poderá arrecadar? Se o distribuir por todas as

mulheres do bairro, num jantar de senhoras, de certeza que ganhará pontos e atenuará o

estigma. Percebe?

ii. Pô-lo a conversar com todas as suas amigas, mesmo aquelas mais mamalhudas, quando elas

querem desabafar. Consegue ver a incrível oportunidade que não será poder despachar, sem

medo de ser traída, todas as chatas das suas amigas para cima (salvo seja) do seu marido,

enquanto a Isabel vai às compras ou tomar uns copos com amigos mais felizes?

iii. Indicá-lo ao padre da sua paróquia como o próximo santo. Esta solução trar-lhe-á grandes

benefícios a longo prazo, pois poderá ser alvo de admiração de todas as beatas do mundo (e

melhor, do seu bairro), procurando-a depois para que lhes conte a experiência e olhando-a

com inveja. Arrisca-se mesmo a tornar-se uma celebridade, a aparecer em missas e até ser

recebida pelo papa. A nós parece-nos ótimo.

iv. Contar a sua história à Fatinha e aparecer no programa da tarde da tvi. O melhor é que se o

seu marido concordar, poderá leva-lo consigo e quem sabe a Fatinha constatará com os

próprios olhos a anormalidade, ao vivo, fazendo comparações e medições com casos

idênticos. Não acha o máximo, essa exposição pública?

Enfim, as alternativas são muitas. Mas, se mesmo assim nenhuma lhe agrada, aconselhamos a que tenha uma conversa franca, séria com ele e lhe pergunte, sem perder a compostura: “olha lá Xavier, achas que isto é coisa que se faça? Gostarias que eu te fizesse o mesmo a ti?” E aí Isabel, se ele disser que sim, largue-o nesse minuto. O que é demais… demais é.

Boa sorte.

M.J e Maria das Palavras.

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