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LEITURAS

A vantagem que encontrei para enfrentar o sofrimento que me esperava não foi viável. Dias vazios numa casa cheia de livros. Todas as frases se tornaram difíceis. O esforço para entender não compensava. Experimentei audiobooks, ouvi podcasts (de livros, como é óbvio). A mente cheia de nada, as palavras eram códigos indecifráveis. Dormia, sempre na expectativa de acordar melhor. Olhem, esperando acordar viva, que um dia sem ler é uma espécie de morte. Mas acontecia o oposto. Chama-se recuperação.

Ao fim de três semanas aventurei-me num romance de fácil entendimento (esperava eu). Estava animada, menos cansada, convenci-me que podia recomeçar. Optei pelo empurrão dócil de um best seller estrangeiro, daqueles que por cá preferimos, parece que o que vem de fora é sempre melhor. Não é. Mas ajudou-me. Era tão linear que parecia que reaprendia a ler, a juntar letras em palavras e palavras em sentidos. Resultava. Li uma história. Findo esse livro, do qual já não recordo nada (antes assim), senti-me acordada para a leitura. Finalmente.

Há ocasiões para todo o tipo de livros, espantei-me. Ou livros para enfrentar maleitas. Automediquei-me.

Li tudo o que pude durante o tempo que me restou em casa. Os livros ajudaram-me a voltar, mas eu preferia ter ficado a pôr a leitura em dia. Com saúde, claro.

Nº 16 - Outubro 2018