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NATUREZA

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No século XIV, as terras de Alcobaça eram as que se encontravam mais povoadas e com um maior desenvolvimento económico. O período que decorre até ao reinado de D. João I foi o mais rico e mais feliz de toda a sua história, apesar da violenta crise económica social e política que se instalou no nosso país a partir de meados do século XIV. Esta crise, em contraste com a crescente riqueza e poderio dos Coutos, leva à alteração do comportamento moral e social dos monges, cada vez mais afastados dos antigos princípios de pureza, trabalho e humildade. Tal atitude contribuiu para que se tornassem impopulares e sobretudo incómodos, sob o ponto de vista da administração real.

Em 1495, aproveitando a crescente fraqueza do Mosteiro de Alcobaça – os monges deixaram de cultivar as terras, ficando estas ao cuidado dos colonos e, para fazerem face às despesas exorbitantes da vida luxuosa que levavam, desbarataram as riquezas do mosteiro – e a nova política tendente à centralização do poder real, as vilas dos Coutos começaram a reivindicar a sua autonomia municipal. Assim, em 1514 sete vilas recebem Foral Real do rei D. Manuel I, nomeadamente Alfeizerão, Alvorninha, Évora de Alcobaça, Cós, Pederneira, Maiorga e Cela, ficando os domínios da Ordem de Cister reduzidos praticamente à “cerca” do Mosteiro.

Mais tarde, para acabar com os abusos dos abades perpétuos, o rei D. João III passou o governo do Mosteiro para os chamados Abades Comendatários (estes eram nomeados pelo rei, e portanto estranhos à Ordem). Apesar desta alteração, a maioria destes Abades desejava apenas enriquecer às custas do Mosteiro, não revelando qualquer outro interesse pelo futuro da Ordem de Cister em Portugal. Por isso, retomaram a política de extorsão e violência, o que levou muitos colonos a abandonar a região, deixando os próprios frades reduzidos à miséria. Os nobres e as outras Ordens Religiosas vão, a pouco e pouco, conseguindo do Rei a doação de muitas terras pertencentes aos Coutos, doação esta originada num descontentamento geral.

Só na segunda metade do século XVIII, durante o abaciato de Frei Manuel Mendonça, (primo do Marquês de Pombal), se retomam as antigas tradições dos Beneditinos, numa última tentativa de recuperação. O Mosteiro de Alcobaça conseguiu, até certo ponto e com grandes dificuldades, fazer prevalecer as suas tradições culturais e agrícolas, mas todo o seu poder acabou por terminar, através de decreto de D. Maria II, em 28 de Maio de 1833.

A história de toda a região de Alcobaça é, pois, indissociável da presença, durante quase setecentos anos, da Ordem de Cister. Grande parte do antigo território dos Coutos pertence desde 1514 ao concelho de Alcobaça, que deve muito da sua herança, principalmente histórico/cultural e económica, a esta Ordem.

Nº 16 - Outubro 2018