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NATUREZA

Normalmente vivemos sobre um passado que muitas vezes desconhecemos ou ignoramos em parte, mas que será sempre uma herança que nos acompanhará, muitas vezes de forma dissimilada ou invisível. É sobre uma dessas dádivas que vos quero deixar alguns apontamentos, nomeadamente sobre a zona de Alcobaça que, tal como muitas outras localidades, deve o seu topónimo à passagem dos Árabes pela Península Ibérica, que ocorreu no início do século VIII.

Em meados do século XII, D. Afonso Henriques conquista Alcobaça. Se para a conquista e defesa destas terras contou sobretudo com a colaboração das Ordens Religiosas Militares, nomeadamente os Templários, para as povoar e desenvolver economicamente recorreu aos monges beneditinos da Ordem de Cister. Nesse sentido, D. Afonso Henriques fez carta de doação e couto (terreno com gestão própria, imune à administração central) ao abade de Claraval, D. Bernardo, com fins económicos e políticos. Se no primeiro aspecto D. Afonso Henriques pretendia promover o desenvolvimento agrícola da região, aproveitando os vastos conhecimentos e experiência dos monges de Cister nesse campo, no segundo visava o reconhecimento papal do título de rei, que já usava oficialmente. Atendendo ao enorme prestígio que o abade Bernardo de Claraval tinha junto do Papa Eugénio III, de quem era conselheiro, a doação à Ordem de Cister de um território com as dimensões dos Coutos de Alcobaça não deixaria de causar boa imagem ao chefe da Igreja Católica.

Após a chegada dos primeiros monges da Ordem de Cister vindos da abadia de Claraval (França), deu-se início à construção do Mosteiro, que viria a ser o maior e mais belo exemplar da arquitectura religiosa cisterciense medieval em toda a Europa.

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Nº 16 - Outubro 2018