Inominável Inominável #16 | Page 23

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JOGOS

Os nazis são aqueles que se consideram mais espertos do que os outros e pensam que podem veicular impunemente os seus pensamentos tipicamente nacionalistas como o racismo, xenofobia e até misoginias (esta última é menos importante porque toda a gente sabe que as mulheres não jogam videojogos e portanto elas nem teriam possibilidade de ver tais comentários antipáticos) nas secções dedicadas à conversação neste tipo de jogos (vulgo: chat). Pessoalmente não tenho tanto problema com estas pessoas como tenho com os três grupos anteriores, porque mesmo o racismo e a xenofobia são aplicações de liberdade de expressão e só acredita nessas parvoíces quem quer. A maior parte dos videojogos tem uma opção de ignorar explicitamente um outro jogador, portanto seria suficiente na maioria das situações. No entanto, alguns videojogos vão muito mais longe, como uma anedota bastante recente em que o videojogo Rainbow Six Siege começou a banir jogadores automaticamente por escreverem palavras contextualmente inocentes. O exemplo mais absurdo foi um jogador paquistanês que foi banido ao descrever a sua própria nacionalidade como "paki".

Eu nem sabia que eles têm internet no Paquistão.

Eu tive uma carreira online muito ligeira. Quando jogava jogos deste género fazia-o apenas com pessoal conhecido porque não queria ter de lidar com as parvoíces das outras pessoas. Adicionalmente, nunca gostei do factor "não se pode fazer pausa num jogo online", especialmente porque o meu contexto doméstico na altura não o permitia. Digo "na altura", porque desde então perdi completamente o interesse em videojogos online, devido a muitos dos factores cuja superfície arranhei neste texto.

Adicionalmente, gosto de ter controlo sobre a minha forma de entretenimento. Gosto de saber o que esperar de um adversário virtual e gosto de aprender com os meus erros quando sou aniquilado por uma inteligência artificial. Mesmo quando as situações podem ocorrer aleatoriamente, eu sei que consigo preparar-me para todas as contingências. Contra um humano não posso fazer isso, e apesar do meu fervor por videojogos, não posso dizer que seja realmente bom a jogá-los. Sou o suficiente para obter a minha injecção diária de hormonas positivas, mas não para derrotar consistentemente um inimigo que, como eu, está sempre a aprender com o adversário.

Para competir com outros basta-me a vida real.

Nº 16 - Outubro 2018