Inominável Inominável #15 | Page 44

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A norte, o rio Minho, já internacional, beija as margens deixando pequenas enseadas, afloradas de areias convidando sem qualquer esforço a serem pisadas e a usufruir do momento. O barulho das contínuas descargas a montante na barragem espanhola de A Frieira não só não incomoda como dinamiza o sossego do local. A este, o estreito rio Trancoso, porta de contrabando até meados da década de 80 do passado século, incendeia ainda mais o local com o seu pequeno caudal que, saltando de pedra em pedra, lagoa de forma cristalina e pura grande parte do leito. Antigos moinhos de água, já resgatados pela natureza, recordam-nos que o Homem, em tempos, lhes dava importância e fazia deles um instrumento de trabalho. Pequenos socalcos embasados por pedras de dimensões reduzidas permitiam tarefas agrícolas ainda hoje visíveis nalguns talhões que vencem o declive. Noutros, porém, resistem os ferrugentos arames das latadas e respectivos prumos toscos de granito, esteiros de uma policultura de sobrevivência.

Inominável

A meio da vertente localiza-se o reduzido casario, recortado por algumas canejas que nos conduzem aos rios. No largo, junto à grande casa, uma singela sinalética indica-nos o caminho para o Marco Nº 1 (ao longo de toda a fronteira com Espanha encontram-se 1048 marcos fronteiriços, o último na ponte sobre o Guadiana em Vila Real de Santo António). Uma capela particular, dedicada a Santo António, fortalece o apelo ao agradecimento pela actual existência deste local; em tempos idos, conjugada com as “alminhas”, eram pontos obrigatórios de paragem e de preces suplicando ajuda nas “fugas a monte”. E porque uma ponte é mesmo uma passagem, Cevide tem duas; uma construída pela autarquia espanhola, junto à antiga casa da Guarda Fiscal e Posto de Controlo; a outra, suspensa, resulta da acção de “Piti” com a ajuda de alguns amigos do concelho de Padrenda (Galiza). Esta última, a escassos metros da foz do Trancoso, adquire por direito próprio o título de primeira ponte internacional de Portugal, apesar dos seus reduzidos cinco metros de comprimento.

Ainda sem confirmação, pensa-se que uma Jeira Romana atravessava o povoado, e a existência de um castro na parte alta de Cevide remete-nos para uma ocupação ancestral.