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DESPORTO

20/20, segundo a tabela de Snellen. 81% dos atletas estudados tinham visão superior a 20/15, com 2% a atingirem os 20/9.2 (o melhor, humanamente possível, ronda os 20/7.5). Resultados semelhantes foram obtidos nos testes de percepção de profundidade e sensibilidade ao contraste. Ainda assim, avisam, a capacidade física nestes parâmetros não é suficiente: sem a capacidade mental para interpretar o que está a ser visto, através da análise repetida dos mesmos padrões de movimento, não conseguirão formar a imagem mental que lhes permite ver o futuro.

Portanto, a capacidade genética não garante uma carreira brilhante no desporto. Um grupo de investigadores da Universidade de Cincinnati, EUA, argumenta que o inverso também é verdade: a falta dessas capacidades não afasta obrigatoriamente um atleta da elite, porque elas podem ser treinadas. Em 2010 e 2011, estes investigadores aplicaram um processo de treino da visão aos atletas da Universidade, e comparando as estatísticas dos batedores em cada época com a época anterior foram identificadas melhorias tangíveis nos resultados. Em 2014, na Universidade da California Riverside, foram aplicados treinos semelhantes a um grupo de jogadores, com outro grupo a servir de controlo, e depois testadas novamente as suas capacidades visuais: 7 dos 19 jogadores terão atingido o nível de 20/7.5 na escala de Snellen para a acuidade visual e descreveram melhorias como “melhor capacidade em distinguir contrastes”, “melhor visão ao longe” e “os olhos estão mais fortes, não ficam cansados”.

Apesar de ainda não se saber ao certo o que se melhora com este tipo de treino, se a capacidade física do olho e dos sistemas da visão, se a capacidade do cérebro para interpretar a informação recebida, parece que estamos cada vez mais longe dos atletas mitológicos e a entrar numa era em que, com o treino e o foco certos, qualquer um pode ser um grande atleta. Ninguém nasce com as habilidades premonitórias de um atleta de elite; à medida que um indivíduo pratica qualquer técnica ou movimento, desde o desporto a conduzir um carro, o processo mental envolvido na acção deixa de acontecer nas áreas de consciência superior do cérebro, no lobo frontal, e passa para zonas mais primitivas de controlo automático e subconsciente – passam a ser acções que fazemos sem pensar. Tal como diz David Epstein no seu livro The Sports Gene, “pensar sobre uma acção é o sinal de um novato no desporto, ou a chave para transformar um atleta experiente de novo num amador”.

Nº 15 - Agosto 2018

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