Inominável Inominável #12 | Page 32

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Entre as várias responsabilidades que podem cair sobre eles, gostaria de relevar algumas: a escrita do enredo, o desenvolvimento dos personagens e da história e a pormenorização contextual do mundo; a construção do mundo virtual, através da colocação ponderada de objectos para futura apreciação e utilização do jogador; o estabelecimento das regras e mecanismos de jogo em termos funcionais, ou seja, o que é que deve acontecer em cada instante do videojogo naquelas circunstâncias.

Programadores: a última grande peça que completa a Santíssima Trindade do desenvolvimento de videojogos. O programador típico é uma criatura curvada, chata e snob e normalmente encontra-se na indústria pouco lucrativa dos videojogos porque cometeu o erro de pensar que fazer jogos era a mesma coisa que jogá-los quando escolheu o curso de ensino superior a tirar. A responsabilidade principal deles é a de concretizar todas as especificações dos designers e condensá-las num programa que possa ser corrido no dispositivo de um utilizador final. São eles que dão vida à imaginação dos artistas e dos designers, tendo ao mesmo tempo a preocupação de garantir que o programa está suficientemente optimizado para não causar combustões espontâneas nos computadores/telemóveis. São amplamente odiados por todos os intervenientes da produção, pois são conhecidos por imporem limitações injustas aos sonhos alheios. São eles que dizem aos artistas que o modelo daquele personagem não pode ter mais do que 10.000 vértices. São eles que dizem aos designers que é inexequível criar uma inteligência artificial como a do KITT, sendo adicionalmente completamente desnecessário para um simples videojogo do 4 em linha. São eles que dizem à gestão de topo que precisam de mais um mês de trabalho para limar arestas e corrigir erros. São eles que dizem a outros programadores que a maneira correcta de alinhar chavetas no código é assim ou assado, numa permanente guerra civil infantil.

No fundo, são desmancha-prazeres, apesar de eles acharem que têm sempre razão.

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