Inominável Inominável #12 | Page 22

mulher. Nos desportos de equipa e noutros, como o ténis, a diferença de qualidade é óbvia. Pois. Mas quantas mulheres existem a praticar esse desporto? E quantos homens? Quanto tempo passaram essas mulheres, sobretudo na fase mais importante que é o início, a praticar e a pensar nesse desporto? Há muito mais coisas que determinam a capacidade que um atleta tem num determinado desporto. O físico é uma delas, mas a imersão nesse desporto - quantidade de tempo investida, motivação pessoal, incentivo dos pais, amigos ou treinadores, qualidade e condições dos treinos, etc. - é tão ou mais importante. As mulheres que hoje vemos no desporto tiveram menos incentivos, menos condições e, provavelmente, menos motivação (porque, mesmo que inconscientemente, sabem que não podem sonhar tão alto) para treinarem e lutarem por uma posição no topo.

Felizmente, hoje em dia assistimos à criação de leis (por exemplo, o Title IX nos EUA) que tentam eliminar as diferenças de tratamento, programas de educação desportiva cujos fundadores e educadores estão cientes destas questões e, talvez mais importante do que tudo o resto, vemos uma geração de pais que já não pensa em menino>bola e menina>barbie.

Eileen McDonagh, psicóloga e co-autora do livro Playing With the Boys, diz mesmo que "estas questões são profecias que se cumprem a si próprias. É mau para as mulheres serem excluídas. O processo de discriminação faz com que mesmo as mulheres se sintam inferiores". Há ainda o estigma de que uma rapariga que pratique desporto é menos feminina, uma maria-rapaz, ficando ali no limbo que hoje em dia separa um género e outro na juventude e poucas raparigas, ou poucos pais, estarão dispostos a ir contra a corrente.

Por fim, temos também questão de que os desportos mais jogados no mundo foram inventados por homens e para serem jogados por homens. A maioria das regras dos desportos modernos foi sedimentada numa altura em que as mulheres estavam postas de parte e, naturalmente, foram alinhadas segundo capacidades que os homens naturalmente disputam, como “quem é o mais rápido”, “quem é que consegue empurrar mais”, etc. Imaginem que, quando James Naismith inventou o basquetebol, ele tinha fixado a altura do cesto em 2 metros, em vez de 3 metros; o resultado seria uma NBA que não é completamente dominada por gigantes; a altura seria importante, como é em quase todos os desportos, mas não seria dominante. Agora considerem todas as diferenças que existiriam se os desportos fossem criados tendo em conta capacidades diferentes – flexibilidade, agilidade, comunicação ou longevidade.

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