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UMA ENTREVISTA

MARLENE

Após a morte de um grande editor, Manoel Luz, também ele um homem dos livros, é confrontado com inesperados segredos que o obrigam a suspeitar da verdade e a recompor a sua narrativa de vida com tantos desacertos e acasos. Depois da revolução de Abril, também o livreiro começa uma inevitável renovação na matéria mais íntima. O encontro inexplicável com a rapariga estrangeira, a filha imprevista com nome de flor bravia e o rapaz louco acompanham Manoel Luz nesta revelação de uma realidade improvável, mais deformada e duvidosa mas compensada pela amplitude da afeição.

“As Falsas Memórias de Manoel Luz” de Marlene Ferraz (sinopse)

ler o mundo

por Isaura Pereira

Marlene Ferraz tem vários livros e contos publicados e prémios ganhos. Nomeadamente, o conto Na Terra dos Homens (prémio Miguel Torga 2008), O Amargo das Laranjas (prémio Florêncio Terra 2008) e O Tempo do Senhor Blum e outros contos (prémio Afonso Duarte 2012). Com o romance A Vida Inútil de José Homem ganhou o prémio Agustina Bessa-Luís 2012. O romance As Falsas Memórias de Manoel Luz é o seu mais recente romance.

Curiosos para conhecer um pouco mais desta autora? Então espreitem esta entrevista.

Isaura Pereira: Como surgiu o seu gosto pela escrita?

Marlene Ferraz: Depois do espanto pela leitura. Seria uma criança muito metida em contemplações, incomodada com o sofrimento evitável nos homens e nos bichos: ficava exageradamente comovida quando me confrontava com um pássaro ferido por um chumbo, uma borboleta com as asas gastas pela curiosidade das crianças ou um cão tão magro que poderia contar-se os ossos. E toda a violência entre homens e homens. Os livros, companheiros de horas intermináveis, resgatavam-me para outras realidades, também duras, improváveis, mas carregadas de ilusão e esperança. Como um escafandro. Ou um outro compartimento de oxigénio. Conviver com o sofrimento pede uma carga suficiente de ilusão.

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