Inominável Inominável #12 | Page 106

FINAL

O

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Ignis escutara a história com surpresa, mas não conseguia encontrar em si a raiva que devia

sentir pela mentira.

Sora era sua guardiã, sua mãe, sua protetora. Tinha-a afastado de uma vida de abuso e agira em função de um qualquer instinto materno

e não por maldade.

Mas Ignis também sentia que havia uma parte de si que não conhecia, uma parte de si que queria descobrir.

É claro que Sora não levou isto a bem e as discussões voltavam sempre. Não havia muito tempo para discussões, no entanto. Miguel ia embora e Ignis queria ir com ele. Queria visitar a terra lá em baixo, e sabendo que acreditava em Sora e Escarlate a cem por cento, sabendo que jamais quereria fazer parte de uma família que a maltratara e continuaria provavelmente a maltratar se Sora não a tivesse, simplesmente, trazido com ela para Aperos, queria saber onde a sua história tinha começado. Havia agora raízes nela sobre as quais ela nada sabia, e se não tentasse descobrir aquilo persegui-la-ia para sempre.

Escarlate, sempre a mais sensata, tinha ajudado Sora a aceitar a decisão. Tinha tratado de tudo com os líderes da aldeia; ainda ninguém sabia da presença de Miguel ali, e a partida de Ignis seria uma forma excelente de a manter um segredo. Partiriam os três: Miguel, Ignis e Sora. Mais tarde, Escarlate juntar-se-ia a eles. Precisava de fazer o primeiro turno da noite, precisava de garantir que mais ninguém via Miguel.

Viu-os afastarem-se noite dentro e muitas questões lhe passaram pela cabeça. A que mais a preocupava voltou várias vezes a ela durante aquela noite: quantas coisas perdemos com vista a fazer o bem?

A relação de Sora e Ignis iria aguentar aquilo, mas não sem mágoa. No entanto, de uma coisa tinha a certeza: mesmo sabendo o final das coisas, Sora faria tudo exactamente igual. E ela própria também.

No final, tal como com a decisão que tinham tomado em relação a Miguel, tudo correria bem.

criador de impossíveis

por Carina Pereira

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