Inominável Inominável #12 | Page 102

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Já aqui escrevi sobre os Direitos Inalienáveis do Leitor e, por ser um tema para mim tão irresistível, não posso deixar de regressar a ele. Não me canso de recomendar o “pequeno” livro de Daniel Pennac, “Como um Romance”(1) , bíblia de qualquer leitor que se preze.

Quando nos iniciamos na leitura, e seguindo a ideia de Pennac, é mais fácil que seja um livro mau a chegar até nós. Quem não se lembra das primeiras coisas que leu? Aposto que muitas das vossas primeiras leituras vos fazem hoje corar de vergonha, não? Mas na época eram livros extraordinários que queriam recomendar a toda a gente, certo? Comigo foi assim. Li muitos (demasiados) romances “industriais”, criados para satisfazer a necessidade das primeiras viagens de leitura. Não resisto a citar o autor: “…digamos que há aquilo a que chamo “literatura industrial”, que se contenta em reproduzir até ao infinito os mesmos tipos de descrições, debita estereótipos em série, faz comércio de bons sentimentos e de sensações fortes, utiliza todos os pretextos oferecidos pela actualidade para parir uma ficção de circunstância, faz “estudos de mercado” para vender, segundo a “conjuntura”, um tipo de produto que é suposto inflamar certo tipo de leitores. Estes, são os maus romances.” (Como um Romance, Asa, página 154).

Devo acrescentar que há muitos leitores que nunca chegam a sair deste estágio a que podemos chamar inicial. E qual é o mal? Nenhum. Ou não viesse eu reforçar um dos meus Direitos preferidos: O Direito de ler não importa o quê.

O QUE EU LEIO É

ANEXO

por Márcia Balsas

Inominável

COMIGO

(1)Como um Romance, de Daniel Pennac; Ed. Asa, Tradução de Francisco Paiva Boléo