Inominável Inominável #11 | Page 99

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CONTO

Nº 11 - Dezembro 2017

- Não posso deixá-la aqui assim. – levantou-se, encarando Escarlate – Não podemos deixá-la aqui assim. Tu viste as condições em que a mantinham. Se não fizermos nada, matam-na.

Escarlate agarrou-lhe o braço, um costume quando queria acalmá-la.

- Não podemos fazer isto. Temos de ir aos serviços sociais…

- Que serviços sociais, Escarlate? Tu já viste como é que eles funcionam aqui? Ela corre perigo. Eu não a deixo voltar para a família dela. Se queres ajudar-me, tudo bem, senão eu levo-a sozinha.

- Leva-la? Mas leva-la para onde?

Sora fitou-a, mas não respondeu. Não era preciso.

- Tu vais raptá-la?

- Escarlate, os pais dela deixam-na sozinha horas seguidas. Não a alimentam, olha – descobriu o torso do bebé com cuidado, tentando não o acordar – tem nódoas negras. Eu sei que não está certo levá-la assim, sem dizer nada, mas eles são perigosos e não querem cuidar de um bebé. Vão acabar por matá-la. A forma como os serviços sociais funcionam aqui… eu vim para cá para estudar exactamente isso, e está ali a conclusão a que chegamos. – apontou para uma capa, onde estavam guardados os vários relatórios que Sora tinha feito para apresentar mais tarde em Aperos – Ela vai comigo.

- E o que é que vais dizer lá em cima? Que raptaste um bebé?

- Não. – decidiu Sora, e Escarlate viu nela uma determinação que não sabia existir ali – Vou dizer que é minha.

- Mas… nós não ficámos sequer cá tempo suficiente para essa mentira…

- Vamos ficar. Eu vou, pelo menos. E se tu decidires ir contra isto, eu desapareço. Nunca mais regresso a Aperos.

Escarlate engoliu em seco. Entendia o lado de Sora, entendia o porquê da decisão dela, mas não concordava com o que estavam prestes a fazer. Sim, porque em todo o tempo em que tentara demover Sora da ideia, Escarlate sabia que no final faria exactamente tudo o que Sora lhe pedisse.