Inominável Inominável #11 | Page 93

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CONVIDADO

Nº 11 - Dezembro 2017

Estas palavras soletradas com o brilho dos olhos não me deixaram qualquer dúvida de que estava na presença do outro pedaço que tanto procurava. Eu não escondia esta condição e sentia que Hanna a saboreava - já passavam mais de oito dias de longas conversas, intensos olhares e sorrisos cúmplices - pois fazia questão de me convidar todos os dias para um longo e pachorrento passeio pelas margens do Trancoso e do Minho, realçando cada bucólico recanto e dando a conhecer toda a beleza do local, em harmonia com as transparentes e abundantes águas que cheias de vida alegremente corriam para a foz.

Ontem, sobre a ponte de tábuas que os miúdos levantaram, tropeçou e caiu desamparada nos meus braços, que nem presente de Natal inesperado - pois, como sabem, ninguém oferece prendas ao Pai Natal. O beijo trocado num desejo mútuo e incontido foi como um grande laço… um laçarote indescritível, tal a sua beleza e a força que me prendeu a este alguém. Nesse momento, sem sonhos nem irrealismos, descobrir que esse alguém não pode ser de mais ninguém, tal como eu a mais outro alguém pertencia.

E agora?

Que faço eu, Pai Natal, que não posso apaixonar-me?

Irei partir, fugir… sei lá… sem olhar para trás, abandonando quem me faz sorrir? Será justo?

Liberto-me do peso da minha profissão e abarco o amor a dois, privando dez milhões da festa natalícia? Será justo?

Sinto-me mal, sem forças para tamanha empreitada!

Estarei doente?

Será que estou a morrer??? Será possível morrer… de amor?

Claro que não se morre de amor!!! Nunca se morreu de amor!!! Aliás, não conheço ninguém que tenha tido tal sorte, nem ninguém que conheça alguém.