Inominável Inominável #11 | Page 92

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Inominável

Ser-se Pai Natal, sem barriga nem barbas, a título precário, deslocalizado para o país do sol, longe das neves e dos gelos, longe dos supermercados das renas e dos trenós, acreditem que não é fácil; agora ser Pai Natal e ter conhecido a Hanna é muito mais complicado... Incompatível, direi eu, pois o rigoroso e frio manual de instruções para Pais Natal é bem claro: proibido todo e qualquer tipo de paixões! É falta grave, e para além de perdermos a magia que nos orienta na noite-luz, o alarme soa na sede e desligam o Natal para o país onde estamos. Uma tragédia nunca sentida! Até entendo o regulamento - não pode haver distracções, atrasos ou presentes trocados. Concentração absoluta na função é brio.

Dizem que nos tempos idos era mais fácil, pois acreditava-se no Pai Natal e esperava-se pacientemente por qualquer presente, fosse ele de que espécie fosse. Os miúdos de agora já não perdoam, não esperam e são bastante exigentes. Mas o que mais me dói é ser Pai Natal por uma noite, uma vez por ano, e tão pouquíssimos acreditarem na causa. Cem horas de formação intensiva para ter um “ho-ho-ho” capaz, e ninguém nos leva a sério. Que mágoa!

A Hanna, filha da proprietária do meu alojamento, aos meus olhos é uma mulher doce, delicada, portadora de um olhar sorridente e penetrante, apaixonada, inteligente e misteriosa; tirou-me o chão definitivamente quando, após questionar se na Lapónia os elefantes voavam, e lhe ter respondido que a minha especialidade eram as renas e que achava que tais animais eram abundantes mas noutras latitudes, respondeu que voavam; aliás, todos voavam mesmo sem asas, pois o que faz voar é a mente, o espirito… a nossa cabeça. A falta de asas é apenas uma desculpa para quem não sabe ou não quer deixar voar; ninguém é prisioneiro, desde que sonhe - rematou.

@BGR