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INOMINÁVEIS

Nº 11 - Dezembro 2017

Volvidos esses anos, recorri às palavras e, numa espécie de terapia caseira, reatei relações com a minha mais velha amiga: renasceu a escrita em mim, num parto natural que me devolveu os sonhos, devagarinho. Dei passos tímidos, duvidei de mim e da qualidade do que escrevia, numa auto-crítica feroz que nem as opiniões alheias apaziguavam. Incitada por uma amiga criei o meu blog – estava agora numa era muito diferente do meu mundo de cadernos e canetas da infância. Daí a criar uma página de facebook foi relativamente rápido e natural e, aos poucos, fui desabrochando, sentindo-me a menina cheia de sonhos novamente. Participei aqui e ali em passatempos de editoras, publicando em antologias e coletâneas, colaborei num projecto de poesia da escola do meu filho - que morria de vergonha ao ver a mãe a dar uma das aulas a par da professora! - e iniciei projectos pessoais relacionados com a escrita que estão quase a ganhar forma concreta. Tudo isto com o velho sentido de auto-crítica intacto!

Desde que as palavras regressaram a mim a minha vida mudou bastante, acompanhando-me num período mais negro e de poucas esperanças, por tempos atribulados de mudanças, e também de tranquilidade e alegria. Ela própria, a escrita, mudou também: cresceu, tornou-se mulher, mas manteve a mesma energia de uma adolescente, onde o único limite que existe é aquele que eu quiser que seja. A participação na Inominável foi um dos presentes do Universo, um mimo em tempos de bonança, sendo a cereja num dos vários topos de um bolo feito de muitas camadas e sabores, numa receita eternamente em elaboração, onde a cada passo se junta um novo ingrediente.