Inominável Inominável #11 | Page 10

cá por casa

por Inês Rocha

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Inominável

Cá por casa sou a única que gosta de escrever criativamente! Assim, os meus queridos homens divertem-se com o meu entusiasmo - mesmo que não o entendam muito bem - quando começo a rabiscar algo novo ou tenho uma ideia ou projecto ao qual dedicar o meu espírito inquieto.

Ao aprender a ler e a escrever abriu-se um horizonte ilimitado na minha imaginação, e as palavras tornaram-se as melhores amigas numa infância solitária e de constantes mudanças.

Quando consegui organizar as ideias que me povoavam a mente transportei-as para o papel, e então começaram a nascer o que eu pensava serem obras literárias escritas em folhas de cadernos, atadas com as linhas da caixa de costura materna, e com direito a capas desenhadas pela minha mão: nascia assim o desejo de ser escritora quando fosse grande! A escrita foi um exorcismo de sentimentos, angústias e dúvidas, surgindo assim com naturalidade a poesia na minha pré-adolescência, de qualidade algo duvidosa à luz dos dias de hoje mas tendo um papel importante na expansão dos meus horizontes em termos de escrita. Aventurei-me também como “jornalista”, criando um jornal chamado “A gazeta do Fogueteiro”, na sua maioria com notícias fruto da minha imaginação, ilustrado e escrito à mão, e vendido porta à porta por vinte escudos, que gastava depois em pastilhas e pirulitos. Não me recordo da receita obtida, acho que só teve uma ou duas edições, e não fiquei com nenhum exemplar, infelizmente. Todas estas aspirações não eram partilhadas com a família, mas fazia-o com as colegas de escola, a quem dava a ler as histórias que escrevia, recebendo um feedback bastante positivo.

Entretanto, esses anos tenros foram ensombrados por uma doença no seio da família, que culminou em morte passados seis anos e veio marcar o meu percurso de vida; perante as dificuldades inerentes, abriu-se uma gaveta para nela encerrar por muitos anos os sonhos de menina; sentia-me incapaz de escrever, consumida por um caminho atribulado que em nada se assemelhava ao que eu idealizara para a minha vida.

O REGRESSO DAS

PALAVRAS