Inominável Inominável #11 | Page 94

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Inominável

No século da racionalidade, da tecnologia e do fundamentalismo, não se morre de amor. Morre-se de tudo, morre-se de nada, da desgraça, do cataclismo, da fome e da sede, do coração e do tabaco, da preguiça e do trabalho, mas de amor, morrer de amor é coisa das fábulas e dos contos que os meus avós desfiavam vezes sem conta, para que o ritual da sesta se cumprisse mesmo na metade do ano em que a luz não se despe.

É caso para dizer, coitado do coração… Bem precisa das campanhas de promoção e do Maio, para tentar reparar-se e valorizar-se.

Não imagino o coração a lutar contra a razão, pois normalmente o coração perde. Perde e perderá sempre. O coração não pensa, age. A razão equaciona e estimula. Actua com certezas refinadas, e por isso ganha, e ganhará sempre.

Bom é morrer de amor vezes sem conta e continuar bem vivo para usufruir e viver a história.

Que bonito, dirão todos. Sim… que bonito…

Não fora eu o Pai Natal e também entraria no coro…

Com a quadra a bater à porta, sem qualquer vontade de trabalhar, atafulhado num imenso rol de endereços que terei de visitar, de frente para a enorme montanha de prendas a embrulhar, apenas tenho pensamentos para a Hanna, mas o peso do compromisso assumido com a entidade patronal desassossega-me e tira-me lucidez.

Que faço eu, Pai Natal, que me deixei apaixonar?

E agora? Que faço?

A Hanna ou o Natal???

Um amor para duas vidas ou um Natal para um país?

O que vale mais?

Ajudem-me a decidir…

Afinal, só terão de optar pela harmonia de duas pessoas, ou por uma quadra festiva!

Grato

Um Pai Natal desesperado

texto de Eliseu Pimenta, a quem muito agradecemos ter sido o nosso...Pai Natal