A pele nunca está pronta.
Por negros pêlos de um lado
e loiros finos fios do outro,
perfurada feito granito,
a pele eriçada é a mais bela flora
na epiderme em choque.
Flor repisada, duro espinho
brutal arma na bainha.
Por fim, o acerto é feito
: amor abjeto, a obra
o coito.
Vivos beijos mortos de línguas tensas,
o silêncio é o oco do desejo que sobra.
Na pele dos dois um texto há muito redigido
é um pedido de socorro mal grafado,
o grito de um menino que foi abusado ,
gemido abafado, nada é esquecido.
O medo no ápice do orgasmo
pede colo e paz de abrigo.
Agora só há pressa,
grana gasta e marcas na grama.
Aplacada a gana, os dois buscam
no tempo o que não foram.
No escuro, a quixotesca figura se desfaz
depois de aplacado o furor.
Os homens seguem sem rumo seu rumo,
o que foi amplificado fica não dito.
Junto deles vai a sombra do medo,
cravado na memória do corpo
sob a pele.
Tanto mar...
Baltazar | Brasil
Sob a Pele
Não há pressa na pele papel macio
do homem mais velho;
Não há demora na pele seda porcelana
fria do rapaz de frete.
.
Vivem sós, marcaram esse desencontro.
A pressa do rapaz é olho de águia na grana,
não aprendeu amar.
A demora no olhar do outro é gana,
esqueceu-se como se ama.
Seria bonito de ver se o caso fosse outro,
de amor entre dois homens
encontro de gerações como oração coordenada
pelo desejo nato desinibido
ou a simples sobreposição da pele
à sede de hidratação
ou troca de afeto,
solidão mordida ou apenas fome.
Mas não é o caso,
embora comum é famigerado esse encontro.
Os dois foram tatuados no escuro
marcados pela vida, um será o outro amanhã.
Sendo a pele o maior órgão do corpo
se compreendida tornar-se-ia
e a tudo, o mais humano de nós.
Mas não é o caso o caso desse encontro.
Aqui a pele é moeda de troca
papel de grife
embrulho
do perfume o frasco
perfumaria
mal tocada quebra
tanto mais trocada mais sangra.
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