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Nº 9 - Agosto 2017

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Pois tem muita coisa, e sobre a maioria já vocês certamente ouviram falar. Tem a celebérrima Praça de São Marcos, com a não menos célebre Basílica, e os vizinhos Campanile (que em tempos longínquos foi um farol e agora é uma torre sineira), Palácio Ducal e Torre do Relógio – além das esplanadas, dos pombos e das enormes filas de gente para visitar tudo isto. Tem o Canal Grande, a artéria principal da cidade, freneticamente cruzado de dia e de noite por vaporettos e outros barcos a motor, gôndolas às centenas, e até mesmo por kayaks. Tem a ponte do Rialto, uma das poucas que atravessa o Canal Grande e sem dúvida a mais conhecida – e onde tirar uma fotografia, selfie ou não, é obrigatório para todo o turista, razão pela qual é praticamente impossível não ficar nessa fotografia com pelo menos mais um ou dois desconhecidos. Tem as gôndolas, e os seus gondoleiros de t-shirt às riscas.

Só isto? Bom, isto já por si só não seria pouco. E isto já todos conhecem, quanto mais não seja pelos milhões de fotografias espalhadas pelos livros, sites na net, calendários, posters e tudo o mais, e amplamente divulgado em reportagens televisivas.

Mas Veneza tem mais. E é desse mais, desses pormenores que estão menos divulgados mas são para mim o melhor de Veneza, que quero agora falar.

Esta apetência por Veneza traz grandes problemas à cidade e a quem lá vive, a tal ponto que os habitantes têm vindo a revoltar-se ciclicamente e a protestar de variadas formas contra este excesso de turismo. Este ano foram aprovadas algumas medidas que visam controlar o número de visitantes que a cidade recebe e as atitudes frequentemente pouco cívicas de muitos deles, mas estas medidas (como por exemplo evitar o crescimento da oferta de alojamentos, aumentar o controlo policial nas ruas ou tentar “desviar” os visitantes dos pontos mais concorridos da cidade para outros menos populares) são, quanto a mim, demasiado suaves para a dimensão preocupante que o problema já atingiu. E não me parece estarem a surtir grande efeito, pelo menos a julgar pelas multidões de turistas que por lá circulavam na minha recente visita (onde me incluo, obviamente – mea culpa, mea culpa…). Porque é que as autoridades municipais não adoptam medidas mais duras com vista a uma efectiva restrição turística? Parte da resposta (se não toda) talvez esteja no facto de a indústria do turismo estar desde há uns anos a render à cidade qualquer coisa como 3 mil milhões de euros anuais.

Mas afinal, o que é que Veneza tem que a torna assim tão “apetitosa” para tanta gente?