Inominável - Ano 2 Inominável Nº9 | Page 16

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Rick Barry, um dos melhores lançadores de lance livre da história da NBA, lançava “à padeiro”. Não é que ele fosse mau a lançar normalmente – foi o melhor marcador da liga em duas épocas e teve 115 jogos a marcar mais de 40 pontos – mas, e estas são as suas palavras, “lançar por baixo é simplesmente melhor”. Na sua melhor época, Barry falhou 9 lançamentos da linha. LeBron James, sem dúvida um dos melhores jogadores da actualidade e um lançador médio de lance livre, falha normalmente 150. De um ponto de vista puramente físico, há muitas vantagens. O movimento é mais curto, e portanto há menos onde cometer erros, e é muito mais fácil de replicar em lançamentos futuros. A posição de lançamento é mais natural ao nosso corpo. A bola leva mais spin, é um lançamento mais suave, e portanto tem maior probabilidade de ressaltar para dentro caso bata no aro. Só não se fazem assim todos os lançamentos porque há adversários à frente e o movimento do corpo a ter em conta.

Um dos seus treinadores chegou a dizer que se ele lançasse 90% de lance livre, talvez eles nunca perdessem. Ele tinha todas as razões do mundo para lançar “à padeiro” e no entanto parou. Muitos outros jogadores podiam ter sido transcendentes, caso tivessem melhorado a sua técnica de lance livre: Shaquille O’Neal (52%), Dwight Howard (57%), Bill Russel (56%), DeAndre Jordan (41%), Ben Wallace (41%), Andre Drummond (38%). A lista continua e é longa. Todos eles passaram pela experiência de serem retirados de campo porque o adversário continuamente utilizava a estratégia de pô-los na linha de lance livre.Todos eles tentaram de tudo para lançarem melhor, mas nenhum deles experimentou sequer lançar por baixo. Porquê?

Claramente não será porque acham que o lançamento por baixo é pior. Os números falam por si, e é conhecimento geral dentro da NBA que lançar “à padeiro” é, de facto, melhor. O ridículo da situação tem, sem dúvida nenhuma, o seu peso. Nos EUA, este lançamento tem a alcunha de “Granny shot” – “Lançamento de avozinha”. Alguns jogadores experimentam, por piada, e nunca mais pensam nisso outra vez. Rick Barry aconselhou um jogador actual a experimentar – melhorando a sua percentagem para 80% nos treinos – mas ele nunca utilizou a técnica em jogos. Rick Barry recusa-se a dar o nome desse jogador, como se fosse uma coisa vergonhosa. Chamberlain deixou de lançar porque, dizia, “se sentia tonto, como um maricas”. Mas segundo Malcolm Gladwell, sociólogo, isso não chega para explicar esta incrível situação. Porque também é ridículo falhar, e falhar nas percentagens em que estes jogadores falham.

Portanto, na sua melhor época, Wilt Chamberlain usava uma técnica de lance livre melhor. Isso vê-se nas suas estatísticas. E depois acontece algo inacreditável. Chamberlain pára, e volta a lançar como antes. E volta a ser um lançador horrível, chegando a lançar 38% em 67-68. Chamberlain era um jogador imparável, excepto se lhe fizessem faltas.