Inominável Ano 2 Inominável Nº8 | Page 76

Ignis deveria ter-lhe acertado com a parte afiada. Dali a nada ele acordaria e se alguém de Aperos o descobrisse estavam todos em maus lençóis. Fez o que pôde para se livrar destes pensamentos; agora estava envolvida na situação e a única coisa decente a fazer era impedir que aquele estranho ficasse incapacitado de sair dali por seu pé. Retirou-lhe as roupas, os sapatos e as luvas, os trapos que lhe cobriam o rosto quase por inteiro. Era jovem, mais jovem do que ela, mais velho do que Ignis. Colocou o unguento nas suas próprias mãos e espalhou-o pelo peito e pescoço do rapaz. Virou-o cuidadosamente e fez o mesmo pelo centro das costas, depois nas virilhas. Aquilo devia reestabelecer-lhe a temperatura. Se havia algo de que o povo de Aperos se podia orgulhar era de ter encontrado remédios para o frio de morte que ali sempre se fazia sentir. No final, cobriu-o com o cobertor mais quente que tinha.

Ignis continuava sentada no chão, braços a agarrar os joelhos. Escarlate ajoelhou-se ao seu lado, colocou-lhe uma mão no ombro.

- Não te preocupes, nós resolvemos isto.

Ignis olhou-a; queria pedir desculpa. Tinha sido cobarde, tinha colocado em risco as pessoas de quem mais gostava.

Da cama veio um gemido. O homem mexia os dedos, um movimento ligeiro. Depois, abriu os olhos lentamente e fitou o tecto branco.

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