Nº 7 - Abril 2017
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Ignis ergueu-se por fim, agarrando a espada que Sora ainda empunhava.
- Não vamos matar ninguém.
As regras tinham sido definidas há muito tempo. Cumpridas também. Aperus não podia ser colocada em risco, e se algum viajante lá de baixo encontrasse a região por milagre, era para ser executado de imediato. Havia muito a defender e mais ainda a perder se fossem descobertos, se as notícias chegassem a quem não deviam. Depois, deviam queimar o corpo com as suas próprias mãos e reportar o acontecimento à vila. Era a única forma de se protegerem e de protegerem o seu território. Tinham vivido assim desde sempre.
- Ignis, não temos escolha.
Ignis retirou-lhe a espada da mão, cuidadosamente. Apesar das suas palavras, a convicção de Sora começava a vacilar.
- Não é justo. Ele não fez nada de mal. Eu li os registos de todos os que foram mortos. Nenhum deles fez alguma coisa de mal; simplesmente foram capazes de cá chegar, a maior parte deve ter-se perdido, vivemos demasiado alto para alguém que não seja louco tentar cá chegar deliberadamente. Eu não quero as minhas mãos sujas à custa de uma regra estúpida.
- Se não o matarmos agora e não fizermos um registo… não sei o que nos pode acontecer. Nunca ninguém se atreveu ou sequer pensou em não o fazer. Não há estranhos aqui. Eles – Sora continuou, uma mão a apontar para baixo, para o ponto de onde o homem que jazia no chão tinha aparecido – não nos entendem. Nós conseguimos criar fogo com as nossas mãos, eles não, para eles isto é bruxaria. Se alguém nos expõe, eles vão procurar-nos e vão encontrar-nos. Vamos deixar de viver em paz.
Ignis abana a cabeça.
- A partir do momento em que o matares, vais deixar de viver em paz.
Sora pára por um momento, olha para o homem inerte e depois para Ignis.
- O que é que propões fazer?
- Levamo-lo para casa de Escarlate e amanhã logo vemos. Temos de regressar para terminar o turno, antes que alguém dê pela nossa falta. – Ela pega nele, levantando-lhe as pernas - Temos de encontrar uma forma de o convencer a voltar sem colocar o nosso povo em risco. Se ele concordar, salvamo-lo.
- E se ele não concordar?
Ela encolhe os ombros.
- Então temos de o matar. – Ignis não acreditava no que dizia, mas precisavam de o tirar dali e para isso precisava de convencer Sora a ajudá-la. Sabia de cor as regras da aldeia, mas não concordava com todas e agora tinham a chance de fazer a diferença.