Inominável Ano 2 Inominável Nº5 | Page 40

IMERSÃO/DINÂMICA:

- A cidade de Iten, situada em território Kalenjin, é hoje um grande funil onde se juntam, no topo, a grande maioria dos melhores corredores mundiais (entre 500 a 1500 de cada vez) e saem, por baixo, apenas os melhores. A imersão dos atletas no desporto é enorme: os atletas dormem em quartos com o nome de grandes maratonas mundiais, vemos atletas medalhados correrem lado a lado com os mais jovens. Tal como acontece com o futebol americano e o basquetebol nos EUA, a velocidade na Jamaica, o futebol no Brasil e em Portugal, toda a atenção do país e da população se concentra na corrida de fundo.

- Também como acontece com outros desportos noutros países (futebol em Portugal e no Brasil, praticamente todos os desportos nos EUA), o atletismo é uma das principais maneiras que os Quenianos têm para fugir à pobreza e subir socialmente. Com um rendimento per-capita anual de 750€, o potencial monetário de ser um corredor de nível internacional é maior do que para um jovem dos EUA que assine um contracto na NBA. E com muitos dos Kalenjin a dedicarem-se sobretudo a uma vida rural, não existe uma carreira profissional ou académica para adiar e praticamente nenhum risco em experimentar o atletismo; correr permite-lhes sonhar com uma vida melhor, em termos financeiros. Todos os anos há um sistema de bolsas de estudo para que jovens quenianos vão estudar nas universidades americanas da Ivy League, e uma das provas de selecção é uma corrida de 1.500m.

“É óbvio que encontrar talento escondido na corrida de fundo não é exclusivo do Quénia. E, tal como o sprint na Jamaica, é precisamente a sistematização do processo pelo qual se encontra esse talento que faz com que se pareça menos com acaso e mais como filtragem táctica. A pergunta real é se encontrar esse talento é mais provável de acontecer no Quénia, especificamente entre os Kalenjin, e se isso se prende com características biológicas inatas.”

David Epstein, The Sports Gene

GENÉTICA

Este é o tema mais sensível dos três, uma vez que estamos a falar de diferenças raciais. Há casos bem conhecidos de investigadores científicos que, sobre este tema, encontraram vantagens genéticas nalguns atletas mas que não partilharam esses resultados com receio das consequências que as suas implicações raciais – e não só raciais, aqui também se põe a questão de talento natural vs. trabalho e treino – poderiam ter na discussão científica e social.

- Pernas grandes, gémeos e tornozelos finos. Um estudo dinamarquês de 1998, ao investigar as várias razões genéticas que poderiam estar na base da performance dos Kalenjin, descobriu que os Quenianos eram mais baixos que os Dinamarqueses, mas que as suas pernas correspondiam a uma percentagem maior da altura. Para além disso, o volume da parte inferior da perna era 15 a 17% menor do que no caso dos Dinamarqueses. Isto é extremamente relevante, uma vez que a perna funciona como um pêndulo, e quanto menor o peso da extremidade, menor a energia gasta para a mover. Os corredores Kalenjin que participaram no estudo tinham menos meio quilo na parte inferior das pernas (uma diferença que se vê até entre os Kalenjin corredores e os não-corredores), o que resulta em cerca de 8% de poupança de energia por quilómetro.

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