Inominável Ano 2 Inominável Nº5 | Page 28

Para alguém que seja de fora deve parecer muito peculiar toda a futilidade de uma pessoa se enervar por causa de umas caixas de plástico com electrónica oriental lá dentro. Nesse aspecto, eu concordaria, pois considero-me "alguém de fora" porque não tenho uma consola de oitava geração. Sim, já vamos na oitava, estas guerras já vêm desde os anos 80. Mal comparando a coisa, sou como um alemão que tenha nascido no início da Guerra dos Trinta Anos.

Qualquer pessoa com um mínimo de noção de como o mundo funciona já terá percebido que o que eu tenho estado a descrever não é em nada dessemelhante de qualquer rivalidade comercial entre marcas doutros produtos normais, tipo champôs ou jornais ou carros. A grande diferença, repito, é que são os próprios consumidores a fomentar a guerra (se o fazem por brincadeira ou não, isso já não sei).

É tipo o futebol. Claques diferentes vestem-se de cores diferentes e imediatamente a reputação de milhares de mães portuguesas é questionada e a legitimidade dos pais deitada abaixo por gestos bovinos. Depois começam as cadeiras a voar, sem razão absolutamente alguma.

O mesmo não acontece na Guerra das Consolas porque é certo e sabido que os totozinhos que jogam videojogos não saem de casa, impossibilitando o contacto físico. No máximo, se enraivecidos, catapultam o objecto mais próximo deles numa direcção aleatória enquanto gritam com o familiar ingénuo que foi perguntar o que raio se passava e porque carga d'água estava o cão em cima do armário.

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