Inominável - Ano 2 Inominável Nº10 | Page 90

meio em ruínas, com pessoas de aspecto duvidoso, e este é precisamente um dos contrastes da cidade. A dois passos das Ramblas temos um sítio que parece votado ao esquecimento da cidade, com prédios devolutos a contrastar com a efervescência das Ramblas.

Curiosamente, por baixo do Arco onde o Cemitério dos Livros Esquecidos se encontra é possível ver, ao contrário de um enegrecido e velho portão de madeira com uma aldraba de bronze, dois portões de metal que passam despercebidos. Acredito piamente que, tivéssemos nós a audácia de bater, o próprio Isaac viria abrir com todo o gosto e dar-nos entrada para um labirinto de livros e memórias. Como assim não foi, seguimos caminho.

A paragem seguinte foi a Praça Real, morada sumptuosa da família Barceló. A praça era um antigo convento, o Convento de Santa Madrona, demolido em 1835. Depois de ser destruído durante a luta pela independência da Catalunha foi mais tarde aberto e recuperado, a praça tal como a vemos hoje corresponde ao antigo claustro do Convento.

Numa das habitações que, pelas descrições do livro, seria mais ou menos a casa de Barceló, podemos entrar no átrio do prédio e admirar a escadaria em mármore com um espelho ao cimo.

Este é um sítio de luz, cheio de candelabros que iluminam a escadaria e nos dão a certeza de que, se subirmos, Bernarda nos vai convidar a entrar e vamos encontrar Clara a tocar piano. A Praça Real é mais um dos sítios onde vemos os contrastes da cidade, numa praça movimentada, com candeeiros desenhados por Gaudí, vemos ruelas escuras onde Fermín se refugiou em tempos. Passámos pela Plaza de San Felipe Neri, que é alcançada por via de um beco, enclausurada entre sombras e que passa completamente despercebida àqueles que não a procuram. Mal alcançamos a praça não podemos ficar indiferentes às paredes da Igreja, marcadas pela guerra. Nesta praça, onde Nuria Monfort lia os seus livros, aproveitando a luz que escasseava no

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