Inominável - Ano 2 Inominável Nº10 | Page 66

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E chegou o Outono. Dizem que é o cair da folha, o símbolo da morte dos dias longos de sol e de roupa curta no corpo. Pode até ser. Mas vejo-o também como um símbolo da renovação, do despir da bagagem de tudo o que já passou, e o iniciar de uma nova fase que irá ser o parto de um novo nascimento e da abertura a novas experiências.

por Inês Rocha

Tem graça que muitas das mudanças mais significativas da minha vida ocorreram numa passagem de estação: o nascimento do meu filho, por exemplo, aquando do despertar da Primavera. E o dia em que se celebrava essa data, num outro dia três, foi também o da chegada a Inglaterra e a uma Primavera tão diferente daquela a que estava habituada; era uma Primavera chorosa e mais escura, e com a qual partilhei as lágrimas inevitáveis de quem parte para o desconhecido e se questiona se deu o passo certo. Sozinha, com um filho e algumas malas, fui como uma planta que rasga o solo numa busca sedenta pela luz, neste caso “uma luz que só pode nascer dentro de nós” (parafraseando o meu querido poeta Mia Couto). E essa luz nasceu com algum esforço em meio à solidão, à saudade, e ao limbo que é o não saber onde é o nosso lar, pois parte de nós já não existe no que deixamos para trás, mas há uma outra parte ainda por nascer, por ganhar voz e raízes.