Inominável - Ano 2 Inominável Nº10 | Page 65

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Começámos por ficar muito felizes com a gravidez (em si mesma), tendo sido feita uma confirmação ecográfica às 8 semanas. Lá estava a placenta toda bonitinha ... fomos de férias e por volta das 10 semanas voltámos ao médico. Foi nesta consulta que o médico começou a achar estranho o tempo, ou algo do género, fez nova ecografia ali mesmo... “Ah – disse – já percebi!!! É uma placenta com dois saquinhos! São gémeos!” E pronto, foi nesse momento que ficou tudo cinzento... de medo... E agora?

A boa notícia (branco) é que cada um estava em seu saquinho, a má (preto) é que tinham a mesma placenta. Aqui os riscos aumentam mais um bocadinho.

Com o desenrolar da gravidez percebeu-se que um dos gémeos não estava a crescer como deveria (cinzento escuro). Fui para casa com indicação de gravidez de alto risco, descansar o máximo possível... (como se conseguisse fazer isso em casa). O controlo ecográfico apertou... até que um dia o médico nos disse que realmente um dos gémeos não estava a crescer como seria suposto. Tudo cinzento, muito escuro! Coração sabe Deus onde…

Encaminhou-me para um hospital público, onde cheguei com um diagnóstico aterrador, a possibilidade de perder os dois bebés (tinha 24 semanas de gestação). Aqui passou a preto.

Depois de um dia inteiro em exames, verificaram que se tratava de uma situação de restrição de crescimento efectiva de um dos gémeos (cinzento outra vez). Fiz maturação pulmonar dos gémeos, nesse mesmo dia e seguinte. Comecei a fazer ecografias dia sim, dia não.

Acabei por ser internada às 27 semanas. Durante o internamento a minha visão da situação alternava entre o preto e o cinzento. Fazia ecografias diárias sempre sem saber o que me aguardava. Nasceram com 31 semanas... um com 1 kg e o outro com 1,5 kg. Tinha dado à luz dois quilos e meio de gente. Ficaram longe de mim (tudo preto...).

Só os conheci no dia seguinte ao nascimento. Sorte estar numa cadeira de rodas quando os vi. Tudo preto. Tubos por todo o lado, exames a cada minuto, monitorizados constantemente. Tive alta 3 dias após o parto, fomos para casa sem bebés (tudo preto, o cinzento já nem aparecia). Ficaram na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais por 6 semanas. Durante esse tempo assistimos a situações assustadoras, como a morte de um bebé ou bebés a serem operados de urgência. Chegávamos ao hospital (fomos visitá-los todos os dias) sempre com o coração nas mãos, sem saber o que iríamos encontrar.

Mas os bebés prematuros são guerreiros, uns Heróis! (tudo branco :) ). Tiveram alta e foram crescendo saudáveis e sem sequelas. Os médicos e enfermeiros também são heróis nestas histórias de sucesso e são a nossa luz, a quem confiamos os nossos corações (são o branco destes sucessos). Bem hajam aos que cuidaram dos nossos no HSM.

Aprendemos a relativizar tudo, é mesmo um dia de cada vez e cada dia vai-se tornando mais claro à medida que os vemos a recuperar e crescer. Têm hoje 20 meses e são os meus heróis cheios de Luz.

O equilíbrio é bom na vida, o preto e o branco, o Yin e o Yang.

Nº 10 - Outubro 2017