Inominável - Ano 2 Inominável Nº10 | Page 106

Em fins de 1957, Merton encomendou a Reinhardt um “Black Painting”, cuja finalidade seria ajudá-lo nas suas orações contemplativas, e depois escreveu sobre a experiência, referindo que a cruz imersa na escuridão parecia como que a querer sair dela, e que para a ver era necessário ignorar tudo o resto e focar a atenção na imagem, como quando espreita por uma janela tentando ver algo na noite escura.

Embora estas obras de Reinhardt “desmontem” completamente qualquer ideia de imagem, composição ou gesto, o filósofo Richard Wollheim considerou, no seu já aqui referido artigo “Minimal Art”, que o sistema de negação inerente aos “Black Paintings” (as quase indiscerníveis tiras verticais e horizontais pintadas sobre o fundo negro) era na realidade uma característica identificável do nível ínfimo de “artistry”destas obras, o que os torna objectos materiais mínimos que podem ser considerados como arte – no fundo, sublinhando aquilo que outros mais tarde acabariam por considerar como sendo o carácter conceptual do minimalismo.

Os “Black Paintings” de Ad Reinhardt são intencionalmente enigmáticos e desafiam os limites da visibilidade. Foram concebidos para resistir à interpretação e para representarem uma nova forma de ver e pensar sobre a arte. Entre muitas outras hipóteses, eles questionam se existirá algo que seja absoluto mesmo no negro, que muitos consideram nem sequer ser uma cor. Por isso mesmo, a obra de Reinhardt permanece como um marco de viragem na evolução do Expressionismo Abstracto dos anos 50 para os movimentos minimalistas e conceptuais das décadas subsequentes.

108