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arranjo meticulosamente aplicado em camadas múltiplas, mas que ainda assim permanecem quase invisíveis e só possíveis de destrinçar através de uma observação mais cuidadosa.

Exibidos em 1963 no Museum of Modern Art em Nova Iorque, os “Black Paintings” causaram óbvia celeuma, pelo seu inerente niilismo e falta de referências visuais. Mas para Reinhardt eles significavam uma espécie de protesto, um manifesto da sua convicção de que a arte em si mesma podia afectar a sociedade e provocar mudanças – mesmo que todas as referências ao mundo exterior fossem removidas, como no caso das suas obras. Na sua composição clássica e absolutamente geométrica, repudiando tudo o que lhes fosse estranho, exortavam à contemplação e à quietude: nas suas próprias palavras, “Tudo está em movimento. A arte deveria ser imóvel”. Além disso, a cor negra era para ele o ponto máximo da abstracção (a pureza do negro absorve todas as outras cores e formas), e a evolução da abstracção consistiria em subtracções sucessivas. Assim sendo, os seus quadros negros eram o zero absoluto da arte, os “últimos quadros” que alguém poderia pintar, marcando o ponto final de anos de experimentação. Ele próprio os descreveu como “um ícone livre, não manipulado, não manipulável, sem finalidade, não comerciável, irredutível, não fotografável, não reproduzível, inexplicável”. Esta atracção pelo lado místico da negação nasceu do seu apreço pela religião e arte orientais, como os padrões geométricos dos desenhos islâmicos ou a contenção espacial e poética das paisagens japonesas pintadas e a qualidade ascética e meditativa do Budismo Zen – e a isto não será indiferente a sua amizade com o poeta e monge trapista Thomas Merton, que era um adepto e seguidor das filosofias zen.

Nº 10 - Outubro 2017