Informação é linguagem, e linguagem
demanda continuidade. Não se usa uma
palavra num sentido hoje, e amanhã noutro. O
que, porém, não significa estagnação. Com o
tempo, o sentido muda. Mas é uma mudança
lenta, onde predomina a estabilidade sobre
a instabilidade. Códigos, para serem usados,
têm de ser duradouros, mudando quando não
correspondem mais à realidade. Na nossa
sociedade de consumo subdesenvolvido, porém,
onde vicejam, além do regime da obsolescência
planejada (de origem internacional), o regime da
corrupção institucionalizada (paixão nacional),
ambos campos de interesses privados (isto é,
dos interesses do emissor, não do receptor),
exemplos de descontinuidade, em prejuízo
do público, são freqüentes: A mudança
constante dos nomes de ruas no Brasil, além
desconsiderar o caráter poético e histórico que
cada rua tem, serve apenas para fazer média
entre políticos e famílias de mortos poderosos
(emissores da informação). A mudança
freqüente dos números de telefone no Brasil
serve apenas para atender à desorganização das
empresas concessionárias de telefonia, e à sua
falta de consideração com o público, destino
final do serviço.
18 aqui design de informação?
A mudança constante das siglas de órgãos
públicos serve ou para encobrir erros passados,
ou para atender aos interesses de políticos que
entram em cena, e usam esses órgãos em seu
benefício. Nenhuma dessas mudanças leva
em consideração as necessidades dos
usuários. Ao contrário, só lhes dá dor de
cabeça e despesas, desperdiçando seu tempo,
prejudicando sua comunicação e sua vida,
exigindo-lhes refazer papéis e documentos,
despesas e prejuízos NUNCA ressarcidos pelos
agentes provocadores das mudança.
No campo do consumo privado o problema
também é freqüente. Se um produto que você
tem saiu de linha (e se ele ficou mais de um ano
na “linha” foi muito), pode jogá-lo fora.
As dificuldades de consertar aparelhos fora
de linha, ainda que bem conservados, ou de
conseguir re-completar os azulejos de um
pedaço de parede que teve de reformar, ou
de comprar mais um sapato igual a esse que
você usa e gosta, são maneiras que as empresas
encontram de fazer você comprar mais (de
novo, no interesse do emissor, não do receptor).
Você é obrigado a jogar fora o que você sabe
que gosta, e a comprar um produto novo que
você não sabe se vai gostar. Isto é, te fazem
gastar mais para trocar o certo pelo duvidoso.
Isso prejudica não só a economia individual,
mas, somando-se, reflete-se também, é claro, na
economia nacional. Na área da informática, em
seu processo de mudança vertiginosa,
essa questão vem atingindo níveis dramáticos.
A alteração - sem sentido - dos comandos
a cada nova versão dos programas de
computador pode divertir (a cabeça), ocupar (o
tempo) e sustentar os (salários dos) analistas de
sistemas e projetistas de softwares, mas
traz grandes prejuízos aos usuários, que perdem
não só tempo, mas principalmente desempenho
operacional tendo de “reaprender”
os comandos que já conheciam, para continuar
a trabalhar. Isso sem falar nos custos
de aquisição dos upgrades. Quanto custa
ao país essa derrapagem periódica da
produtividade nacional, decorrente da falta
de consideração dos produtores com as
necessidades dos consumidores?