Informativo ABECO Informativo No 8 (jan-mar 2017) | Page 4

Informativo da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação Número 08 – Janeiro a Abril de 2017 OPINIÃO BRASIL E ARGENTINA UNIDOS TAMBÉM NA DESESTRUTURAÇÃO DA CIÊNCIA? A SITUAÇÃO DO SISTEMA CIENTÍFICO DA ARGENTINA LEONARDO GALETTO Ex-presidente da Asociación ArgenBna de Ecología Após a crise de 2001, produto da década neoliberal anterior, a ArgenBna Bnha um sistema cienHfico com um corpo de pesquisadores que havia encolhido e envelhecido. Por exemplo, o CONICET (Consejo Nacional de InvesBgaciones CienHficas y Técnicas) Bnha em 2003 cerca de 3.000 pesquisadores com uma idade média de 50 anos. Nesta época, foi feito um planejamento para reverter a idade da pirâmide populacional de pesquisadores, com o aumento do ingresso de jovens durante a primeira década do século XXI. Havia sido planejado chegar a 10.000 pesquisadores em 2010. Foi possível chegar a mais de 7.000 pesquisadores e 8.000 bolsistas, com a oferta de 1.000 bolsas anualmente. Em seguida, foi feito o Plano ArgenBna Inovadora 2020 (AI 2020) que permiBu estabelecer áreas prioritárias, questões estratégicas, além de definir uma taxa de crescimento anual de 10% para os pesquisadores do CONICET até 2020. O objeBvo era aBngir a meta no médio ou longo prazos, com cerca de 4 pesquisadores para cada 1.000 habitantes da população economicamente aBva. Este padrão de crescimento anual de 10% foi cumprida até 2015, quando houve uma mudança de governo e assumiu o presidente Macri. Com o novo governo, no campo cienHfico havia a expectaBva de que se seguiria ou aprofundaria o plano de desenvolvimento AI 2020, porque o governo manteve o ministro da Ciência e Tecnologia do governo anterior, prometeu manter os avanços já conquistados, e elevar o orçamento em C&T de 0,59% para 1,5%. O orçamento para C&T 2016 não se elevou, como promeBdo, mas caiu por restringir a quanBdade de ingresos para a carreira de pesquisa do CONICET em 50% para os anos de 2016, 2017 e no futuro. Ao diminuir, passou de uma taxa de crescimento previsto de 10% ao ano para outro, de cerca de 5%. Ele também reduziu em, aproximadamente, 20% o número de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento. O Ministro da Ciência e Tecnologia, Lino Barañao, vindo do governo anterior e da própria comunidade cienHfica, começou a mudar seu discurso, enfaBzando que a ciência "serve para o desenvolvimento econômico e social". Com isso, passou a promover a ciência, antes com o enfoque na qualidade e expansão, para uma perspecBva uBlitária e com esvaziamento do sistema cienHfico. Outro grande problema para os pesquisadores foi a restrição das fontes de financiamento para desenvolver o conhecimento cienHfico, reforçada pela desvalorização brutal da moeda (> 60%), já que muitos insumos dolarizados impedem o desenvolvimento normal dos projetos. Em suma, o sistema cienHfico sofreu um novo grande ajuste neoliberal, a dívida externa está novamente crescendo de forma constante, o que determina que as oportunidades de emprego de jovens doutores sejam gradualmente reduzidas, perdendo o país e a região a autonomia para seu desenvolvimento cienHfico e social. Foi o que aconteceu ao Chile na década de 90 e que está acontecendo com o Brasil agora. Uma história que, na América LaBna, nós sabemos de cor.