Informativo ABECO Informativo No 14 (jan-abr 2019) | Page 16

INFORMATIVO ABECO | Edição Nº 14 definição de uma política de ciência e tecnologia para o Brasil que priorize a manutenção da integridade dos biomas e melhore a qualidade de vida da população. IA: Quais os desafios de uma pesquisadora mulher lotada numa instituição de pesquisa longe do eixo centro-sul do Brasil? IV: O campo científico, ao longo dos tempos, foi se constituindo como essencialmente masculino, excluindo ou tornando invisível as mulheres. No Brasil, o que eu chamo de uma ‘agenda científica feminina’, só se concretizou a partir da década de 70 e hoje percebemos que a quantidade de mulheres que opta por carreiras científicas tem aumentado bastante. A participação de mulheres e homens em algumas áreas de conhecimento é equivalente ou o número de mulheres supera o número de homens. Mas ainda há áreas como as engenharias e tecnologias em que há a sub- representação das mulheres, e não só no Brasil. O Museu Paraense Emilio Goeldi, onde trabalho, completa 153 anos 16 e até a década de 70 teve poucas mulheres em seu quadro, mas hoje há uma forte presença feminina na instituição, com mulheres cada vez mais em posição de lideranças. Ser cientista mulher na Amazônia é bem desafiador sob vários aspectos, mas as mulheres têm vivenciado profundas transformações que têm influenciado diretamente em suas vidas e carreiras e se tornaram mais independentes e ‘empoderadas’. No meu caso, contei com incentivos e a situação econômica favorável da família. Tive possibilidades de estudar em outro país e as influências culturais de meus pais magistrados foram fundamentais para a minha formação e ingresso na carreira científica. Mas, ainda vejo muito preconceito sobre o desempenho profissional e o compromisso com a carreira, tidos como inferiores aos dos homens devido à maternidade, dedicação à família, etc. A situação gera efeitos negativos no reconhecimento de sua capacidade intelectual e na divulgação de suas pesquisas. Isso é lamentável e precisa ser superado! Por estar fora do eixo centro-sul, a região amazônica sempre esteve em último lugar quanto a investimentos financeiros em educação básica e pesquisa científica e isso limita as potencialidades. Mas, a partir de 2009, nota-se uma alteração radical no perfil dos estudantes nas Universidades do norte do país com o ENEM, SISU, adoção de ações afirmativas e a política de interiorização das universidades federais e hoje elas expressam melhor a composição social do país. E neste sentido, as discentes mulheres são bem mais representativas. Houve um avanço também na pós- graduação na Amazônia e o seu papel é fundamental na formação de novos doutores na e para a região e já noto que há predominância feminina nos programas de pós em que atuo no Pará. Mas, os baixos investimentos em C, T & I e a falta de programas para incentivo à fixação de cientistas na região persistem, como grandes desafios para o avanço da ciência na Amazônia, e isto inclui a “agenda científica feminina”.