Informativo ABECO Informativo No 14 (jan-abr 2019) | Page 12
INFORMATIVO ABECO | Edição Nº 14
12
OPINIÃO
O papel das contribuições
“puramente técnicas” na
ciência
por William E. Magnusson
Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia - INPA
Atualmente, existe uma
discussão
no
meio
acadêmico
e
órgãos
financiadores e avaliadores
brasileiros sobre artigos
com mais que seis autores.
Tem sido sugerido que
estes
artigos
devem
pontuar nas avaliações
somente para o primeiro e
último autores, para o
autor de correspondência e
autores principais quando
assinalados na lista de
autores. Isso indicaria, por
exemplo, que um curso de
pós-graduação com seis
publicações na Science com
autores na oitava posição
poderia não ter produção
intelectual relevante. Já um
curso em que um autor
publicasse um trabalho
numa revista local, com
impacto mínimo, e sem
integração com outros
pesquisadores,
seria
considerado de maior
contribuição para a ciência.
É claro que o curso poderia
ter sorte e o último autor
(segundo os co-autores,
teria contribuído menos)
estar entre seus discentes.
Esta lógica está muito
ligada à diferenciação entre
produção
técnica
e
produção intelectual, com a
presunção de que a
produção técnica não
requer
atividade
intelectual. Muitos anos
atrás, eu li um trabalho que
mostrou que preguiças têm
maior biomassa na floresta
tropical que outros grupos
de mamíferos. Perguntei
para o primeiro autor como
ele
conseguiu
contar
preguiças, uma coisa que
ninguém
mais
tinha
conseguido até aquele
momento. Ele respondeu
que um dos técnicos no
sítio de pesquisa tinha
dedicado muitos anos ao
problema e aprendeu como
localizar preguiças na copa.
Ele mostrou as preguiças
para o resto da equipe que,
com muita dificuldade e a
ajuda
de
binóculos,
conseguiu confirmar suas
identificações. Eu fiquei
impressionado que alguém
poderia aprender a fazer
isso e perguntei qual dos
autores foi a pessoa com
esta
capacidade
extraordinária.
O
pesquisador
respondeu
que a pessoa que localizou
as preguiças não estava
entre os autores porque
sua
contribuição
foi
meramente técnica.
O
conceito
de
superioridade de pessoas
que escrevem ou falam
bem é muito comum na