Informativo ABECO Informativo No 11 (jan-abr 2018) | Page 12
INFORMATIVO ABECO | Edição Nº 11
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bolsistas produtividade em
pesquisa do CNPq, um dos
termômetros de excelência
científica
no
Brasil,
considerando
os
pesquisadores que atuam na
área de Ecologia, apenas 32%
são mulheres. Subindo os
degraus de bolsistas 2 (onde
33% são mulheres) até
bolsistas 1A (onde incríveis
9% são mulheres!), o impacto
é tão grande, que é quase
“um milagre” uma mulher
chegar neste estágio de
excelência
da
carreira
científica.
O que explica este
fenômeno de perda de
mulheres ao longo desta
“trilha”
acadêmica?
Certamente todos sabem
muito bem que as condições
intelectuais e a capacidade
criativa na ciência são as
mesmas entre mulheres e
homens. Também sabem
que não há nas estruturas
acadêmicas, pelo menos nas
oficiais, nenhum mecanismo
para proibir mulheres de
concorrerem aos melhores
postos. A explicação, na
minha opinião, está nos
diversos obstáculos que
ocorrem ao longo da trilha,
que acabam impedindo a
permanência e ascensão das
mulheres
na
carreira
científica. Especificamente
para cientistas ecólogas, os
primeiros
obstáculos
começam no convencimento
da família que, sim, é possível
uma mulher escolher uma
profissão
recheada
de
esforço físico, intelectual e
riscos. Ao final da graduação,
são materializados na evasão
das bancadas de laboratório,
provocada por motivos que
incluem gravidez, aborto ou a
falta de apoio dos familiares
para que se invista em uma
carreira científica. Vencidas
estas
etapas,
poucas
mulheres
sentem-se
realmente
capazes
de
perseguir uma carreira de
cientista,
empírica
ou
teórica,
também
por
questões culturais incutidas
desde a infância (afinal,
carreiras que demandam
pensar, competir e dedicar-
se visceralmente não são
vislumbradas para meninas).
Na pós-graduação e na
profissão, ecólogas e outras
jovens cientistas deparam-se
com
realidades
pouco
amigáveis:
pouca
sensibilidade da academia
sobre o seu planejamento
familiar, falta de estrutura
dos
congressos
e
universidades para abrigar a
maternidade,
pressões
familiares para se adaptar às
necessidades dos parceiros,
entre outros. Os obstáculos
se sucedem, mas a carreira
tem
que
se
manter
funcionando!
Cientistas
mulheres
são
pouco
“lembradas” nas palestras
magnas, nas coordenações
de programas de maior
envergadura e nas editorias
de revistas. Pese a isso a
falácia da meritocracia, tão
ineficiente para corrigir
distorções,
quanto
subterfúgio dos que cultivam
preconceitos, impedindo o
empoderamento
de
minorias. Isso tudo sem
contar os assédios, nas
coletas de campo ou nos
corredores
das
universidades, em todas as
etapas da trilha.
Não é trivial conseguir
sobreviver aos obstáculos
que permeiam a trajetória de
uma
ecóloga
cientista.
Muitas desistem, poucas
chegam ao topo. Uma
realidade que o mundo
acadêmico
precisa
compreender, antes de
aplaudir
as
conquistas
parciais e dar a causa como
ganha.