Informativo ABECO Informativo No 10 (set-dez 2017) | Page 7
Informativo da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação
Número 10 – Outubro a Dezembro de 2017
OPINIÃO
BOAS NOTÍCIAS EM MEIO À CRISE DA CIÊNCIA
BRASILEIRA
por FABIO RUBIO SCARANO
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento de Ecologia
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável
A palavra crise, na sua origem e?mológica la?na, significa “momento de mudança súbita”,
enquanto na raiz grega significa “momento ditcil, de decisão”. Crise, entretanto, não é um estado
permanente, e muito menos um estado que necessariamente nos conduza a um momento pior.
Ela é transiente e, dependendo de como se lida com a transição, ela pode conduzir a um novo
estado “melhor” ou “mais desejável” que o estado anterior. A crise é o elo de ligação entre uma
normal an?ga e uma nova normal. A primeira noZcia boa da crise da ciência brasileira é que o que
vem depois dela depende de nós, cien?stas.
Lidar com crise requer reflexão e, para refle?r, requer desaceleração. Essa é outra noZcia boa da
atual crise: se faltam recursos, se falta rumo ou direção, surge tempo para parar e pensar.
Quantas vezes paramos e pensamos na úl?ma década, a de “vacas gordas”, que hoje já parece um
passado distante? É bom ter tempo. A velocidade e a falta de planejamento nos tempos de
bonança, tornam a crise que se segue ainda mais dura, pois dá uma sensação de impossibilidade
de um futuro melhor. O fim do mundo.
A úl?ma vez que sen? que Dnhamos chegado ao fim do mundo, foi em 2014, quando Zygmunt
Bauman esteve aqui no Rio de Janeiro e disse em palestra que “vivemos o fim do futuro”. Essa
forte afirmação me deu a sensação de “fim do mundo”, mas que felizmente só durou alguns
segundos. Bauman se referia ao fim de várias referências, utopias ou futuros pretendidos que, por
um mo?vo ou outro, não se concre?zaram: o futuro hippie, o futuro marxista, o futuro do sonho
americano. Chamava pelo desenho de novos futuros, novas utopias. Sem dúvida, o
reconhecimento do fim de vários futuros imaginados cole?vamente demanda novas utopias. É
curioso que um ano depois, em 2015, como conclusão de um processo que se iniciara também no
Rio de Janeiro em 2012, foram anunciados pelas Nações Unidas os Obje?vos do Desenvolvimento
Sustentável (ODS): 17 obje?vos contendo 169 metas a serem alcançadas globalmente até 2030. A
visão de futuro que conta com a assinatura e o endosso de todas as nações do mundo é a de um
planeta sem pobreza, sem fome, com a natureza conservada, com água e energia limpa, com
produção e consumo sustentáveis, com igualdade de gênero, com acesso à educação para todos,
em paz e com colaboração. Em outras palavras, e até dado o caráter par?cipa?vo desse processo
de definição dos ODS, o planeta está dizendo que essa é sua nova utopia. Temos 13 anos para
caminhar em direção a esse futuro, se o abraçarmos como sociedade.