Gabriel Priolli foi editor executivo e diretor de redação da Imprensa entre 1987 e 1991. Hoje é produtor independente de TV e consultor em comunicação política.
Livres para censurar
Está faltando liberdade de imprensa no Brasil? Sim e não, dependendo do que se está falando, ao formular a pergunta. Se a liberdade referida é a da corporação jpornalística publicar o que quer, mesmo descumprindo exigências éticas da atividade, não é possível dizer que haja uma crise; no máximo, problemas pontuais. Ma se essa liberdade for também da cidadania, se disser respeito ao direito social à informação isenta, equilibrada e plural, pode-se dizer que ela é violada constantemente pelo Estado e pela própria corporação.
Os prodecimentos dos descontentess ou prejudicados pelo noticiário seguem no padrão histórico conhecido. Ou fazem pressão direta sobre os veículos, em geral respondida com a demissão de jornalistas - como a do repórter Caio Barbosa no jornal O Dia, defenestrado a pedido do prefeito Marcelo Crivella. Ou recorrem à Justiça, o que pode resultar em sentenças de censura - como a que sofreu o site do Partido dos Trabalhadores, obrigado a excluir críticas do ex-ministro do STF, Alexandre de Moraes, autor do recurso.
Aliás, a Justiça nem precisa ser acionada para censurar e intimidar jornalistas. Pode fazer isso de modo próprio como fez o juiz Sérgio Moro ao determinar a condução coercitiva e a apreensão de smatrphones
computador e celulares do blogueiro Eduardo Guimarães. Ele foi acusado de publicar informação embargada e pressionado a entregar quem vazou, algo que jamais ocorreu com repórteres dos grandes veículos, que vazam de tudo da Operação Lava-Jato, todos os dias. O sigilo de fonte não valeria para Guimarães porque, mesmo editando há 12 anos um blog de grande audiência no país, Moro entende que ele "não é jornalista".
No regime de exceção vigente desde o impeachment ilegítimo, a liberdade de imprensa é exercida de forma unilateral, em fragrante conflito com o direito à informaçãop. São as próprias empresas que se encarregam de censurar os fatos, oferecendo ao público sempre um único ângulo deles, mesmo quando controversos. É a corporação jornalística que sepulta a boa prática de "ouvir o outro lado", transformando-a em mero registro burocrático, que mais cala do que escuta as vozes dissonantes. São as empresas de radiodifusão que cortam o microfone dos entrevistados, quando os apresentadores não gostam do que ouvem deles, como ocoreu em rádios do Grupo Bandeirantes com o deputado Paulo Maluf e o vereador Fernando Holiday.
Já o poder executivo, no seu papel de gestor da mídia pública, não tem feito nada por ela além de diminuí-la, fragilizá-la e censurá-la. Na Empresa Brasil de Comunicação, a extinção do Conselho Curador cassou a participação da sociedade na definição da política editorial, que foi substituída pelo dirigismo governista que a lei evita.
O PODER EXECUTIVO, NO SEU PAPEL DE GESTOR DA MÍDIA PÚBLICA, NÃO TEM FEITO NADA POR ELA ALÉM DE DIMINÍ-LA, FRAGILIZÁ-LA E CENSURÁ-LA