Hatari! Revista de Cinema HATARI! #02 Teen Movies (2015) | Page 7

“WHEN you grow up your heart dies”. Não há um adoles- cente que não tenha entrado em pânico na década de oitenta ao ouvir essa frase da boca de Alli- son Reynolds em Clube dos Cin- co (The Breakfast Club, 1984), de John Hughes. Nós, nascidos na década de 70, crescemos atormentados com a possibili- dade do nosso coração morrer quando nos tornássemos adultos. Em plena crise da adolescência a nossa preocupação maior era com o nosso futuro, com manter o nosso coração vivo e pulsando. Como se o simples fato de ser adolescente já não fosse o sufi- ciente para tornar o mundo um lugar um tanto inóspito: o cor- po ganha contornos diferentes, as paixões são avassaladoras, a voz muda, espinhas surgem e de uma hora para outra você come- ça a ser cobrado como um adul- to, mas quando apresenta suas confusões, dramas e dores para o mundo você é tratado como criança. Assisti Clube dos Cinco pela primeira vez através da janela da casa de uma amiga de infância. Ela era uma japonesa, mais velha que a maior parte da turma (en- quanto a maioria tinha nove ou dez anos ela já tinha uns quinze). Ela era a menina mais idolatra- da do grupo, todo mundo queria ser seu amigo, afinal, enquanto a gente estava entrando na ado- lescência, ela já a vivia em toda a sua intensidade. Em uma tarde de sábado ela chegou da locadora com um filme nas mãos. Naquela época ela ainda era a única com um vídeo cassete na turma, mas sua família não gostava do bando dentro de casa. A sala da frente da sua casa tinha uma enorme ja- nela e era lá que ficava a TV com o vídeo. Então, a gente se aco- modou do jeito que deu do lado de fora do janelão e lá dentro ela colocou o filme para rodar. Fo- mos apresentados a um nerd, um atleta, uma maluca, uma princesa e um mau elemento (ou como o próprio filme coloca, um crimi- noso) e junto com eles assistimos pela primeira vez a um filme de John Hughes. O mundo nunca mais foi o mesmo, pelo menos não para mim. Muito do que es- crevo hoje tem um pé fincado no universo desse diretor e nos seus personagens com os quais ainda me deparo vez ou outra quando me olho no espelho.