Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 49

A maneira como Shane Carruth faz um filme de ficção científica, ao menos em Primer (2004), é bem matemática. Isso talvez se deva a formação do diretor, que decide se arriscar no cinema tendo como seu primeiro filme algo de um gênero que sempre que se vem à cabeça talvez se imagine com grandes efeitos especiais, trilha pesada, entre outras características que são exploradas. Aqui ele foge de tudo isso. Feito às próprias custas e contando com a ajuda de amigos, Shane dirige, rotei- riza, atua, compõe a trilha e faz de Primer o seu debute no cinema, sendo premiado em festivais que dão ao filme uma alcunha de “cult”, principal- mente por ter ganho Sundance. O filme narra a história de dois amigos engenheiros, Aaron (in- terpretado por Shane) e Abe, que realizam experimentos científicos junto com outros amigos em uma garagem, fato bem comum nos Estados Un- idos (vide a Apple, que nasce na garagem de Steve Jobs). O experimento é sobre bloquear a força da gravidade, assim re- duzindo o peso interior de objetos, mas as coisas dão “errado” e acabam gerando outra descoberta mantida em segredo por Aaron e Abe: o fato do experimento se tratar de viagem no tempo. A partir dessa descoberta, eles a usam para um artifício que normalmente é praticado quando se conseg- ue essa façanha: ganhar dinheiro em cima disso, já que vão ter esse con- trole temporal. Mas essa jornada traz resquícios, já que como resultado da viagem eles acabam se duplicando, ou seja, no momento em que eles viajam, reproduzem uma cópia de si dentro da linha temporal. Assim, coexistem ao mesmo tempo. Tal descoberta faz o filme ganhar uma outra pegada, tendo um ar de suspense no ambiente dos personagens, que ago- ra se deparam com tal complicação. O diretor não usa de muita movimentação de câmera, quase sem- pre ela está parada e com seus personagens transitando em frente a ela, por vezes tomando um ar de found footage com o uso de metalinguagem, principalmente nas cenas na garagem, o que dá um aspecto mais inter- essante para o filme. Mesmo com a mudança gerada pela descoberta de suas cópias, o ritmo do filme não chega a mudar, permanecendo nes- sa “lentidão”. Quanto à trilha, ela é sempre usada nos momentos mais “científicos”. A composição é própria, mas sempre com uma atmosfera bem presente no gênero. Também há de se ressaltar os muitos diálogos 49