Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 45
Fazer escolhas se torna mais complicado a partir do momento em que
nos vemos numa situação na qual devemos lidar com as consequências
de nossas próprias decisões. Em maior ou menor escala, todos se con-
frontarão com um dilema durante alguma etapa crítica da vida. Os erros
são comuns, mas encarar as sequelas decorrentes pode ser mais difícil
do que fantasiar com viagens no tempo para voltar no passado e tentar
novamente.
No cinema, abordar o tema da viagem no tempo sempre desperta a
empatia de um grande público, que partilha deste desejo e que, por isso,
consegue com facilidade se colocar no lugar do protagonista do filme em
questão. Apesar de não ter a mesma popularidade de De Volta Para o Fu-
turo (Robert Zemeckis, 1985) - que é citado e homenageado - ou Efeito
Borboleta (Eric Bress e J. Mackye Gruber, 2004), o enigmático Donnie
Darko (Richard Kelly, 2001) é bastante respeitado na categoria “cult”.
Estrelado por Jake Gyllenhaal, Donnie Darko é uma das maiores in-
cógnitas do cinema do século XXI. Trata-se de uma complexa história
sobre viagem no tempo contada de um modo singular, misturando ficção
científica e filosofia. O filme ainda gera muita controvérsia, desenten-
dimento e mistério ao público, que, quase sempre, o considera incom-
preensível.
Elemento indispensável em obras sobre viagem no tempo, a teoria do
caos norteia a narrativa do começo ao fim, quando o protagonista volta ao
passado para evitar a morte de sua namorada, o que acontece de maneira
trágica, pois lhe custa a própria vida. Diferentemente de outros filmes
que abordam o mesmo tema, Donnie Darko é contado na perspectiva de
um garoto excêntrico.
Logo no início, Donnie nos é apresentado como um rapaz de hábi-
tos incomuns, quando acorda no meio de uma estrada, vestindo pijamas,
após ter passado a noite dormindo no asfalto com sua bicicleta caída
ao lado. Apesar de inusitado, é um comportamento rotineiro da vida do
protagonista, uma vez que não há reações como medo ou preocupação de
sua parte e nem de sua família, que age como se nada tivesse acontecido.
Além de sofrer de sonambulismo frequente, o garoto é um adoles-
cente rebelde e perturbado que tem alucinações. É visto com desdém
pelos vizinhos e colegas de escola e está sempre cercado por tragédias
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