Hatari! Revista de Cinema #05 Ficção Científica | Page 31
Jeff Goldblum em A Mosca (1988)
O cinema de David Cronenberg é arrebatador, nele o corpo e a mente
têm uma relação única e obscura onde ou um ou outro mutam-se ou
desintegram-se em prol de algo maior, existe uma fixação pela carne. A
invocação de um mal é sempre encarnada pelos corpos de seus protago-
nistas, pode-se dizer então que a carne, a ciência, a inadequação social, o
sexo e a morte constituem uma parte indispensável do cinema do diretor
canadense.
Em uma primeira fase podemos observar que o mal transparece fisi-
camente, ora por mutação, ora por um vírus, ou ainda uma inquietação
muitas vezes psicológica de seus personagens vem à tona em forma de
aberrações físicas. Dentro deste formato poderíamos citar filmes como
Filhos do Medo (1979), Scanners (1981), Videodrome (1983) e A Mosca
(1986).
Particularmente em Videodrome e A Mosca, vemos dois persona-
gens que se transfiguram e consequentemente passam a vivenciar uma
recém-adquirida espécie de existência. Em A Mosca, temos inclusive o
personagem de Seth Brundle se tornando no final um ser grotesco, mas
que claramente possui uma consciência humana, em seus olhos negros
e profundos, enquanto seu corpo e sua mente permanecem um só nesta
triste e agoniante saga de destruição.
Seth, interpretado por Jeff Goldblum, é um cientista excêntrico que
31