Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 7

INTRODUÇÃO Por Eduardo Baggio A Hatari! Revista de Cinema chega a sua 4ª edição com o olhar voltado para o Cinema Brasileiro dos anos 80. Diante da revolução glorifi cada dos anos 60 e da marginalidade enaltecida dos anos 70, a cinematografi a brasileira da década da redemocratização e do encerramento do ciclo da Embrafi lme (1969-1990) sempre foi tratada como menor. Porém, quando nos atemos a fi lmes desse período encontramos grandes poten- cialidades artísticas e políticas, como nos fi lmes de Suzana Amaral, Adélia Sampaio, TizukaYamasaki, Norma Bengell e Lúcia Murat. Cinco mulheres diretoras com seus cinco fi lmes de desbravamento, abordados por uma mulher de 19 anos, Hanna Espe- rança, que não passou pela ditadura, que não teve que lutar para votar, que pode, em teoria, vestir a roupa que quiser, mas que não aceita um meio artístico tão machista. Os arredores da Rua do Triumpho marcaram o cinema brasileiro dos anos 70 e 80, com a conhecida e não demarcada Boca do Lixo. Pedro Favaro nos apresenta o cineas- ta que, provavelmente, mais represente o espírito da Boca, Ozualdo Candeias. Já Tiago Lipka trata de um fi lme específi co, Filme Demência (1986), do também oriundo da Boca, Carlos Reichenbach, que fez sua subversão ao clássico de Goethe com uma bra- silidade oitentista fascinante. Reichenbach ainda foi objeto das considerações de Jucas Jeison, que destacou Império do Desejo (1980). A partir de questões políticas e econômicas do Brasil dos anos 80, Lucas Taras dialoga com dois dos mais destacados fi lmes de Arnaldo Jabor, “Eu Te Amo (1981) e “Eu Sei Que Vou Te Amar (1986), como possibilidades entre o coletivo e o individual. Partindo do mesmo contexto político-econômico e procuran- do ampliar as relações que dele surgem em Ópera do Malandro (Ruy Guerra, 1985), Renan Turci nos oferece uma análise muito particular deste fi lme e do processo de adaptação que o originou. A “Trilogia Paulista da Noite” ou os fi lmes do “Neon-realismo” são objeto dos textos de Felipe Rocha, Marcela Patricio de Almeida e Gabriela Quadros. O primeiro destaca o simbolismo de Cidade Oculta (Chico Botelho, 1986) e nos lembra que o fi lme é, em grande medida, herdeiro da Boca do Lixo e assim aponta para relações importantes no Cinema Brasileiro dos anos 80. Outro tipo de relação é levantada por Marcela de Almeida ao tratar de A Dama do Cine Shanghai (Guilherme de Almeida Prado, 1987) e suas ligações com o próprio cinema e, em especial, como referência explicita ao A Dama de Shanghai (Or- 07 son Welles, 1948). Por fi m, Gabriela Quadros discute a realidade e a mentira em Anjos da Noite (Wilson Barros, 1987) e mostra que trata-se de um fi lme potente e politicamente provocador, apesar do que diziam seus detratores.