Hatari! Revista de Cinema #04 Cinema Brasileiro Anos 80 | Page 25
“DIRETOR. Vós ambos, que me tendes tantas vezes
Em apertos e mágoas socorrido,
Dizei-me: Que futuro à nossa empresa
Agourais nestas terras de Alemanha?
Desejos tenho de agradar às massas,
Pois elas vivem, e viver nos fazem.
O teatro está pronto, esperam todos
Uma festa gozar. Já estão a postos,
Bem abertos os olhos, desejosos
De maravilhas ver. Sei por que modo
O público favor ganhar se logra,
Mas em tal embaraço nunca estive;
Não estão afeitos ao melhor, é certo,
Mas, por meu mal, têm lido imensamente.
Que havemos de fazer, por que pareça
Bem novo tudo, de conceitos rico
E demais agradável? (...)”
(Trecho do prólogo de Fausto)
“Agora, com a devida distância, eu posso afi rmar que é possível dividir os meus
fi lmes em duas vertentes distintas: a) os de teor intimista que investem num ci-
nema dos sentimentos à Zurlini, no melodrama social á Fassbinder e sobretudo
no realismo exacerbado de certos fi lmes de Buñuel e Rosselini. Amor, Palavra
Prostituta, O Paraíso Proibido, Extremos Do Prazer, Anjos Do Arrabalde, Dois
Córregos e Bens Confi scados são fi lmes desta vertente. Nestes fi lmes não há um
espaço muito aberto para a ruptura formal; ao contrário, são fi lmes ‘concebi-
dos no papel’, de construção antecipada muito sólida e onde o conceito de dire-
ção está mais próximo da idéia de ‘regência’. b) os que buscam fazer dialogar
o ‘cinema popular’ com a ousadia formal e/ou a experimentação. Esses fi lmes
enxergam cada uma das etapas da realização escritura, fi lmagem, montagem e
fi nalização) como uma aventura à ser explorada de forma inédita. Garotas Do
ABC é um irmão gêmeo de Filme Demência, Império Do Desejo, Lilian M. e
Alma Corsária, exatamente por trafegar entre o fi lme narrativo e sua ruptura
constante.(...) Se você me perguntar quais os fi lmes que eu pessoalmente mais
gosto como cinéfi lo eu não hesito em dizer que são os da segunda vertente,
exatamente porque são mais ‘imperfeitos’, mais ‘sujos’, embora os da primeira
vertente tenham me dado mais prestígio.”
(Trecho de entrevista de Carlos Reichenbach para a Revista Época)
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